terça-feira, 6 de maio de 2008

O segundo e o terceiro.

13:40:

Hoje estou auto-imune. E agora não consigo mais parar de escrever. É a única coisa que a minha cabeça parece conseguir fazer no momento. Estou no meio de uma aula de psicopatologia e o seminário que está sendo apresentado não prendeu a minha atenção nem fudendo. Só me resta esse caderno.
Se tudo que eu escrevo é como um retrato da minha mente no momento do ato de escrever, que compulsão é essa que me ataca desde ontem com esse meu álbum de “retratos”?
Estou me sentindo meio alheia ao mundo de fora. Como se nada que realmente acontece importasse, ou fizesse alguma diferença. Como se não existisse isso que eu chamo de diferença, porque agora eu não sou uma pessoa como qualquer outra, ou como eu mesma. Sinto-me uma espécie de híbrido. Uma mistura de todas as categorias do mundo em forma de consciência fluida, difusa, desconexa, flutuante, espalhada, indefinível, perdida, morta.
Eu não sinto nada. Nem mesmo a dúvida que nunca me abandona(va). No momento estou flutuando dentro e fora daquele nada que “eu” mencionei ontem (ou hoje, não me lembro).E também não quero passar a sentir. Não tenho vontades, não tenho receios. Só tenho lembranças, e as linhas que tentam ligá-las entre si. Não tenho como me concentrar quando não é propósito nisso. Não vejo causas e não vejo objetivos. Não quero focos ou pontos de vista.
Eu nem preciso deixar de existir, pois já não existo. No nada não há haver. E nem a negação.
Where is my mind?

Que estranho estado de consciência. Passei a estranhar todos os sentidos, todos os significados. Passei a visitar flashes de lembranças e apagá-los logo em seguida, com preguiça do que a imagem pode trazer consigo, alguma outra imagem ou alguma tentativa compulsiva de formular um onde, um quando, um por quê, um o que, um pra que, um quem mais?
O meu zoom está se afastando mais e mais. Já não posso ver detalhes. Os meus pensamentos ficaram pequenos demais para me ocupar. E eu não quero nada grandioso agora. Eu quero aproveitar o silencio e a sua amargura. Quero não ser ninguém por algumas horas. Esquecer que a existência existe. _____________________________________________________________

22:09:

Para a minha sorte, depois dessa descarga de pensamentos em meu caderno, assisti a uma palestra com um ex-professor de psicologia social na UFMG, aposentado e também com formação em psicanálise lacaniana (Avulso, não?). Sabe aqueles velhinhos simpáticos que mostram nitidamente o quanto acumularam conhecimento pela vida e que sabem exatamente como e quando usar esse conhecimento? Senti uma enorme, enorme, E-NOR-ME admiração por ele. Ainda mais quando ele mencionou Porfírio, a espécie especialíssima... Me senti tão importante... Tinha certeza que eu era a única pessoa da sala inteira que sabia do que ele estava falando. Parece prepotência sentir isso, mas experimente o sentimento um dia para ver se não é bom.
Ele tinha aquela coisa que eu procuro sempre saber ter. Ele já tem uma visão tão revisada das coisas que passou a vida estudando que consegue enxergar além do que todos enxergam. Ele consegue ver o que está abaixo do buraco, sabe usar as palavras perfeitas para o que quer dizer, sabe procurar o que interessa no problema. E sem querer e sem saber, praticamente me bateu no rosto com algumas verdades que eu estava precisando ouvir, especialmente hoje. Incrível como eu consigo apanhar de uma palestra sobre Estamira. Aliás, Estamira é um filme excepcional! Eu digo principalmente por ter a nítida impressão de que eu abstraí e elaborei muito mais coisa daquele filme que o que foi proposto pela professora.
Saí da aula hoje com aquele sentimento de atordoamento depois de bater a cara na parede. E com toda a certeza de que se eu tenho algum objetivo de longo prazo na minha vida, é ser tão foda quanto pessoas desse tipo. Que um dia eu possa causar esse embasbacamento em outras pessoas. Que eu possa servir de inspiração para outras pessoas. Não porque eu quero ajudar o mundo. Admito que sou muito mais egocêntrica que isso. Mas assim como eu vou me sentir muito bem por ser admirada, sei que as pessoas que vão me admirar vão sentir o que estou sentindo agora.
Seria mais como um espelho que viaja no tempo.
Depois da aula, peguei um ônibus e fui até perto do Diamond, devolver os filmes que aluguei. Saindo da locadora tive uma vontade repentina de comer cookies! Então fui até o Carrefour bairro que tem ali perto. Peguei o meu pacote de cookies e fui para o caixa. Quando olho para a direita, vejo alguém muito parecido com o Fefs de costas. Espera... ERA o Fefs de costas. Então fui conversar com ele e com a Barbara. Me chamaram para ir ao cinema com eles. Apesar das minhas supostas responsabilidades, ignorei e resolvi os acompanhar ao cinema. Assistimos a um filme irlandês no Usina. Chama Once (Apenas uma vez). É um pseudo-musical, e as musicas são TODAS lindas! Como sempre, eu me apaixono pela trilha sonora. Estou baixando ela agora. Depois fomos ao ponto de ônibus e eu voltei para casa. Jantei, descobri que me ferrei bonito: trabalho de social para amanha... Tinha que ter lido um texto gigante e ter feito uma pseudo-resenha. Bom, não vou ter paciência nem para a leitura agora, quem dirá para escrever sobre depois. Ainda mais se levar em conta o fato de eu não ter dormido muito bem nas duas ultimas noites, e amanha tenho que me levantar as cinco e quinze da manha. É a vida. Voltou a ser corrida.
Ontem saí da aula de experimental III com um sentimento tão bom... mas isso não nenhuma novidade. Essa matéria consegue sempre levantar o meu humor.
Ouvindo muito Metric! Não tinha todos os CDs de Metric e tive que baixar com urgência. É MUITO BOM! Vícios dos últimos dias são Metric e New Order. 
Aluguei mais alguns filmes. Para abastecer minha cabeça.
E me peguei sorrindo pra músicas de novo. Tá parecendo com Musicofilia (assunto fascinante que o Oliver Sacks trata no primeiro capítulo do livro lindo que eu comprei) 

Música é o que me faz esquecer que estou com muita preguiça de mim mesma hoje.



►So plant a thought, watch it grow. Wind it up and let it go...