terça-feira, 17 de janeiro de 2017

Ímpares



Pulando os anos pares, sigo toda errada. Me espanta não ser canhota, voltada para o oeste, para a partida e não a chegada.
Somente aqui essas coisas me vêem. E pelo jeito, somente em ano ímpar. Nunca quando houver Copa, ou Olimpíadas ou eleições, aparentemente!
De certa forma sou mesmo errada, sou pro oeste.
À minha esquerda tenho obrigações, cálculos financeiros, agendas, busca incessante por pesar menos que 75kg... à direita tenho distração formato de tela preta, plana e retangular. À direita tem memórias também, tem coisas que guardo sem precisar guardar. Tem coisas que tenho porque são bonitas. Tem coisas que guardo aos montes e ainda desejo mais coisas para continuar guardando. A esquerda me lembra então que não posso, e se não posso, melhor nem desejar! Melhor me convencer de que não preciso para ser feliz.
Mas do que preciso para ser feliz?
Algumas coisas sei enumerar. Algumas delas estão aqui à esquerda mesmo. Esse lado esquerdo que me faz pensar que não sou boa, não sou inteligente, não sei fazer as coisas direito, estou trapaceando, quem é que vai dar ouvidos a alguém que nem sabe direito o que está fazendo.
Aí a direita diz: calma... você sabe, mas não sabe que sabe, que sabe... que sabe.
Na minha estante de livros de teoria Gestáltica, o livro mais à direita é sobre mandalas. Meio que nada a ver né?
Porran... teoria de campo! De repente estou falando da minha escrivaninha ou do meu cérebro?


►Mesmo assim, preciso disso aqui de vez em quando....

quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Só não estou aqui

Eu estou aqui. À minha frente, pessoas com olhares exasperados, olhares cansados, olhares tensos. Cada um envolto em algo que não sou eu quem está vivendo. Eu estou aqui, e vejo todos. Mas eu não estou aqui. Parece irreal, mas é possível. Parece loucura aos outros saber onde eu realmente estou. Por isso mesmo, não digo a ninguém.
Eu estou no futuro. Diante de gente que ainda não conheço e sentimentos que ainda não sinto: mas quero muito sentir. Estou em uma sala, deitada num sofá escuro, à meia luz, ouvindo a chuva. Estou numa cozinha, preparando algo apimentado, estou acordando em outra casa. Estou em uma boate, contra a parede. Estou deitada na praia. Estou correndo na neve. Estou dentro de um abraço…
Só não estou aqui: não hoje.


►Algumas coisas só podem ser roubadas se eu não as segurar firme.

Tu tens um medo - Cecília Meireles

Tu Tens um Medo 
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
... E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que é eterno. 

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

New kind of mess

A fact: never before was it so hard. Never before was it so great.
A gift and a fear.
Some people gone, some people come.
I open the doors so many times. I close them right after.
Maybe I could leave them open…
I pray.
I listen to a song. It tells me to trust.
How is it? Trusting?
I think it over… I may be thinking too much. I may be feeling too much…
I fear.
I fear and I fear.
Can I concentrate for the next one hour?
What is it I do when I write and talk about death?
Where’s my ground? It was just here…
Can this be? Can it happen? Can it change me?
Of course! It is already changing me.
Where do we go now…. Sweet child of mine?


►Butterflies

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Ele me disse

Eles me disseram que eu estava “sumida”. Respondi: “nem eu tenho me visto mais!”
Ele me disse de manhã, em voz cantada: “esse é só o começo do fim da nossa vida”. E eu cantei junto.
Ela, por sua vez, já me disse tanta coisa. Difícil dizer uma. Mais difícil é responder. E sempre será.
Eles todos me disseram coisas bonitas. Me senti agradecida. Então agradeci.
Mas a que sou grata mesmo? São tantos encontros, eu sempre acreditando serem, não eternos porque me parece que tempo não se encaixa, mas verdadeiros por assim dizer.
Eu não sei ser sem esperança. E sofro por me perceber vulnerável. Eu estou aí eo mundo pode fazer o que bem entender. Pareço vítima, penso em mudar, endurecer, não me importar.
Mas se eu não for de verdade, o que será?

Vou deixar Amarante dizer algumas palavras por mim: “o vento vai dizer lento o que virá”



► Já tinha saudades

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Procurar ou viver?

Até meus ídolos estão tentando. Meus amigos, cada um em seu mundo. E eu caminho só, só caminho. As pessoas fazem e dizem coisas que não lhes cabem. Outras pessoas escutam coisas e deixam que elas cresçam.
Um de meus maiores ídolos recebeu uma carta. Na minha opinião, a carta era simplesmente desrespeitosa, egoísta, descabida. No entanto, quem recebeu realmente levou a sério, se afetou, sofreu... E não parece ter percebido quão invasiva foi essa carta. Então percebo que até meus ídolos, aqueles que julgo tão evoluídos, por assim dizer, só estão tentando. Ninguém está pronto, acabadinho, redondinho. Será que aqueles que julgo também estão tentando?
Outra coisa: como é fácil perceber falhas e responder à altura quando não é comigo. Acho que cada um tem mesmo sua lição a aprender.
É difícil esse momento em que se compreende. Sinto quase uma tristeza, um luto pela minha posição mais confortável de quem apenas sofreu por culpa de alguém. É difícil achar o equilíbrio entre ser a bobona e ser a brigona. Se nada incomoda, se tudo é compreensível, eu viro a mosca morta, a vida fica difícil, não dá para sobreviver no meio dos lobos assim. Mas me tornar um lobo vai contra tanta coisa. Principalmente contra mim mesma.
É difícil tentar ser mais "a minha mãe" e ao mesmo tempo não querer viver "a minha mãe".
É difícil buscar o meu poder e saber que sou quem sou e estou feliz sendo assim, mas mesmo assim saber que tenho carências. Será que dá para ser poderosa e frágil ao mesmo tempo? Acredito que sim.... Mas será que existe alguém por aí que vai saber disso? Eu preciso procurar, ou só preciso viver?



► ela tem beleza mesmo na fraqueza

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Das coisas de que tenho medo

Ficar sozinha
Não ter filhos
Não ter meu próprio espaço
Não ter espaço
Não conseguir escrever o tcc
Não conseguir escrever o tcc
Não conseguir um emprego
Perder amigos
Perceber que alguns amigos não são amigos
Perder possibilidades de ser
Voltar a falar com ele
Não voltar a falar com ele
Não dizer o que não consegui dizer antes
Dizer tudo que penso
Encarar um conflito
Gritar com alguém
Não aprender a não chorar
Não poder chorar
Não chorar
Morrer
Viver
Engordar
Desistir de algo
Insistir em algo
Ser vista como babaca
Ser realmente babaca
Ser irresponsável
Deixar que os outros vejam minhas irresponsabilidades
Dinheiro
Assalto
Escuro
Alienígena
Pessoas novas
Fazer o que o desejo manda na hora que ele manda

Preciso sentar agora e escrever. Preciso ir para casa fazer o que não quero fazer. Preciso me largar.

"De ti ficará apenas ti que és eterno"



►Karma.