segunda-feira, 29 de setembro de 2008

Boa sorte ao meu leitor

Todo dia começa com uma analisada na memória de trabalho em busca de resquícios de sonhos. Hoje eu fiquei espantada com a riqueza nonsense dos meus sonhos. De vídeos antigos e épocas hippies de pessoas que são apenas dez anos mais velhas que eu (apesar de terem uma certa representação paterna para mim), a uma estória louca misturando a minha avó, as confusões dessa região (geográfica mesmo) da minha família com os robozinhos ETs do filme engraçadinho que assisti ontem à noite. E nisso tudo me aparece um fulaninho (porque eu ainda não sei o nome que dei para esse ser) cabeludo que gostava muito de Beatles e me levava junto em suas aventuras pela Cristiano Machado em seu avião ultra tecnológico (que estava, sim, pousando na Cristiano Machado em meio aos carros) perseguindo o robô gigante de doze tentáculos que havia seqüestrado a minha avó dentro de uma lata de lixo. E quem eram os vilões do meu sonho? O Pato fu! Sim, eles estavam dirigindo o robô gigante de muitos tentáculos (em formação de Power Rangers dirigindo o Megazort deles...). Aí resgatamos a minha avó (que não queria ser resgatada porque ela não tinha mais lembranças de quem ela era e queria morrer – essa foi a parte filosófica pesada do meu sonho), voltamos para a nossa sala de aula (não me pergunte o nexo disso) que ficava num prédio de bambu meio escuro e com muitas plantas saindo de todo buraco possível, o fulaninho cabeludo apresentou a nossa aventura como se fosse um trabalho de escola e com She Loves You (versão Beatles n’choro) de fundo musical e eu pensando em como seria tão bom se ele cortasse aquele cabelo de ogro das cavernas dele...
Foi quando eu acordei e repassei tudo isso na minha cabeça.
Daria um filme bacana... se eu conseguisse pagar a participação do Pato Fu.

Sábado e ontem foram dias para o universo conspirar contra mim. Pela manhã de sábado eu já acordei seguindo a linha errada de raciocínio. Por que é que eu tinha que escolher aquela manhã para repassar em consciência todos (mas todos mesmo) os problemas cíclicos e suas conseqüências que viram problemas cíclicos que acontecem na minha vida... desde sempre. Eu praticamente escolhi uma hora para pensar no lado desgraçado da minha vida inteira. Com esse acumulo de excremento passou a ficar difícil, em primeiro lugar, parar de chorar... em segundo, encontrar alguma coisa boa para se pensar durante o dia. Pois bem, mesmo sabendo que não seria bom para mim, eu sai de casa e fui ao francês. Eis que o meu carburador furou, saiu fumaça do meu capô e eu fiquei parada sem poder ligar o carro de novo na pista do meio da amazonas no cruzamento com a contorno. Imagine a cena, como foi agradável.
Consegui ligar o carro de novo um tempo depois, quando ele já tinha esfriado um pouco. Fui até o posto de gasolina ali do lado e coloquei água de novo. Nesse ponto foi hora de me descontrolar de novo e chorar horrores. No meio do posto de gasolina, com dineis a gosto para me observar. Retomei o controle e fomos para o francês (chegamos atrasadas e ainda fui criticada pelo professor que nem brasileiro é por ter andado com pouca água no carburado).
A tarde foi passando e os problemas foram ficando mais distantes na minha cabeça (fui jogar The Sims 2 – nada melhor que algo totalmente inútil e com alto grau de distração).
À noite fomos ao Fimpro (campeonato de Match!) vimos a disputa pelo terceiro lugar entre México e Argentina. Foi bótimo. Eu saí de lá pensando em portunhol. Foi o momento bom do dia.
No domingo, porem, acordei e retomei a linha de raciocínio da manha de sábado. Não podia evitar de pensar em como os momentos de prazer que tenho não são substanciais. Passam rápido e não deixam nada de permanente. Como se só viessem para me fazer esquecer de como a minha vida é uma merda generalizada. Daí passei a pensar em como amizades são igualmente efêmeras, se baseiam em interesses (não interesses calculistas, mas interesses naturais que até eu tenho). Daí veio o pensamento sobre como tudo é mesquinho. Como nada vale a pena. Como ficar na minha cama (doente, by the way. Domingo ainda me fez o favor de me presentear com um enjôo e uma dor de cabeça muito simpáticos) não me traria nada de bom na vida, mas levantar dela não seria nada melhor que isso...
Eu não queria sair de casa, por isso não fui na casa do João e nem fui na final do Match (os fatos de o meu carro estar estragado, de eu estar passando mal e de eu não ter dinheiro algum contribuíram para a decisão). Passei mais um dia jogando The Sims 2...
Esse foi um fim de semana vagabundo de atividades e de pensamentos.
Com isso não adiantei nada nos verbetes, não li nenhum dos e-mails, não estudei nada da pesquisa, não li nenhum texto (se é que eu ainda faço isso) das matérias... mas que seja. Depois do breve abismo do fim de semana, acordei pensando nesse sonho estranho e o meu espírito de eficiência voltou. Hoje ainda vou virar três ao mesmo tempo para dar conta de aula de psicopatologia, entrevista com interno do hospital e entrevista com a criança (mais a sua mãe) do trabalho de psicologia escolar. Quando voltar para casa ainda vou estudar até não ter mais atp para gastar e tirar o atraso do fim de semana com os verbetes.
Pelo menos não tive que ir á aula de ontologia hoje e pude escrever esse monte de inutilidades aqui.



►Um dia eu ainda tiro alguma conclusão boa disso tudo que tem me acontecido...

sábado, 27 de setembro de 2008

Exausta

[texto apagado]

De que adianta pedir ajuda se ninguém responde ao pedido? Quando é problema de outra pessoa é invisível (e Douglas Adams nunca foi tão sábio em uma frase).
Engraçado como que promessas se dissolvem em tempo.
Engraçado como é fácil sugar o útil e deixar o resto de lado sem cerimônia.
Engraçado como é fácil me criticar pela forma como eu vivo, mas ninguém segura a minha mão.
Tão engraçado que estou rindo horrores nesse momento.
Tenho medo de estar me sentindo tão mal assim.



►Mas que mundo desgraçado!

sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Enfim, uma sexta-feira.

Hoje eu vou ser como uma daquelas frases que saem da boca para impressionar alguém (certas presenças são intimidadoras demais para se agir com naturalidade). Aquela frase que não soa muito como você mesmo e que depois, no dia seguinte, você se pergunta “mas por que eu disse aquilo?”.
Esses momentos são especiais... marcam um divisor de águas na vida entre quem você é por inércia e quem você é por interesse.
Ultimamente tenho mesclado esses dois jeitos de ser. Meu divisor de águas foi bombardeado e eu começo a misturar as águas do ria Amazonas com as do São Francisco. Depois vai ser uma bagunça para colocar cada água no seu lugar quando eu conseguir reerguer meus divisores de novo...
Queria lembrar com detalhes do sonho dessa noite... só sei que multipliquei por dois a aflição de querer só um. Quase acordei acreditando ser a realilade do sonho a real realidade...
Eu sou uma neurose fóbica que cresceu sonhando em ser esquizofrenia.



►Enfim, uma sexta-feira de dormir até às nove da manhã, de ligar o computador para desperdiçar a minha manhã, de deixar a correria de lado sem ligar muito pra isso...

quinta-feira, 25 de setembro de 2008

Repertório comportamental

Não há buraco fundo que não possa afundar um pouco mais.
Cá estou eu, presa entre as duas faces de uma única opção aparentemente plausível. Ou segura. Ou que seja a única coisa que eu consigo fazer no momento, simplesmente por não ter repertorio comportamental adequado no meu arsenal. Não sei mais como sair dessa circunferência provocadora de dependência química.
Sim, eu consigo fazer coisas mirabolantes, eu me vejo mais perto desse mundo hipotético (dedutivo) que eu sonhei para mim, eu confio na minha capacidade de completar o caminho. Mas por que é que parece que eu sou a única que não tem certeza? Eu sou a única que não tem apoio (alguma base sólida que ajude a manter o equilíbrio). Pois bem, eu sei o que eu quero, e sei muito bem. Mas de duas uma: ou o que eu quero não me dá garantia de nada no meu futuro cada vez mais obscuro, ou o que eu quero me parece impossível de alcançar porque eu nunca aprendi a lidar com tais assuntos capciosos.
E desses dois mundos eu escolhi um para fingir que o outro não me afeta. O que eu escolhi me ofereceu boa distração até o momento em que conversei com o João sobre isso.
E na verdade isso tudo é uma baboseira de marca maior. Eu não tenho que escolher nada. Tudo faz parte de mim. É apensa mais fácil ignorar a parte de mim que incomoda (e os supostos amigos mais próximos têm feito questão de agravar o incomodo... depois me pergunto por que tenho sido assombrada por essa solidão existencial). Acho que ia ser tão bom contar esse detalhe com todas as palavras para alguém... mas quem é que pode ouvi uma coisa dessas? As pessoas em quem não confio o suficiente para mostrar meus medos ou as pessoas em quem confio, mas que são justamente quem tem me provocado medo e mágoa com esse assunto? Ou quem sabe a única pessoa em quem eu confio que não vai me provocar tais mágoa e medo, mas que tem por si só mais problemas que eu jamais poderia imaginar em ter na minha vida... Eu sempre estive isolada, eu e eu mesmo... mas essa bola de neve virou uma avalanche.
Reclamações à parte (e reclamação ultimamente não me falta), eu sei que não dou conta disso tudo sozinha. Sim, dou conta porque tenho vivido comigo mesma há vinte anos e vou bem, obrigada. Mas não sou tão incrível ao ponto de conseguir ressignificar a minha vida a partir do nada que me cerca. Tudo que posso dizer é que o jeito é agüentar calada por mais um tempo indefinido mesmo, como sempre foi. Até quando será que eu posso estender isso?
Ah, que preguiça que eu tenho dessa minha imaturidade emocional...




►Meu repertório comportamental é rico em estratégias de fuga e esquiva e de defesa...

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

Em palavras de gente mortal

Agora vejo como foi rápido. Quase uma vida inteira à mercê de uma vontade que era como o vento. E eu me permiti. Proporcionalmente não faz o menor sentido... será que é por não ter sido? Nunca vi algo tão pequeno ser tão forte e tão de repente.

O que falta é alguém com quem eu possa compartilhar meus dias, momentos que me tirem do meu eixo, motivos para continuar no meu caminho e desculpas para sair dele de vez em quando. Alguém que me tire essa sensação de estar sozinha nessa estrada árida, sem distrações ou diversão pelo caminho e sem enxergar o destino. Ia ser bom caminhar acompanhada...
O meu apoio tem sido eu mesma. Assim fica meio difícil manter uma certa estabilidade.
Não quero me apoiar em coisas que ainda não existem ou que não existem mais... apesar de eu ainda fazer isso quando me distraio. Mas esse tipo de apoio não vai pra frente: a fantasia tem data de validade e se desmancha sozinha antes que eu termine de pensar nela.
Não estou morrendo nem nada. Ainda aguento muita porrada antes de desistir... Eu sou uma pessoa forte apesar de reclamar muito. A reclamação trás uma parcela de força junto. Mas faz falta ter um outro objeto de investimento libidinal fora eu mesma.
Em palavras de gente mortal: sinto falta de amar alguém e ser amada (de preferência pelo mesmo alguém).



►”Sei que tudo vai ficar bem... só não sei se vou ficar também”

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

Scaffolding e semancol para o jantar.

Nada como um dia após o outro. Nada como um scaffolding básico (falo como se soubesse horrores de Vygotski). Nada como alguém esfregar na minha cara de formas sutis e até inconscientes a minha grande estupidez.
Apesar disso, não negligencio o valor de um dia tão ruim como foi ontem. Afinal, cada dia é um dia. Mas hoje tive a sorte de perceber como eu sei ser patética (em um sentido diferente, quase saudável).
Sim, é verdade. Muitos dos nossos grandes medos são medos bobos. Algumas coisas são mais fáceis de se ultrapassar que se espera. Outras podem ser apavorantes por essência, mas o primeiro passo tem que ser dado.
Ontem foi a minha pausa para a miséria. Hoje retomei meu caminho (ainda com duvidas e complexo de solidão, mas engoli metade dessas coisas e recuperei a minha vontade de superar as expectativas que eu tenho de mim mesma).
Engraçado como algumas presenças conseguiram, sem querer, compensar as ausências.
Só retiro uma coisa que disse: não, eu não sou incompetente. Apenas sou sujeita a dias para não confiar na minha própria palavra.
Agora é hora de me preparar. É tão bom recuperar o sentimento de que eu sou capaz...



►Parece até que fiz auto-terapia intensiva. De onde vêm essas mudanças drásticas? Começo a achar que tenho algum transtorno de humor qualquer. Tem algum psiquiatra por aí que possa me diagnosticar?

Um quase desabafo.

Não sei mais quem sou, o que estou fazendo, para onde estou indo, se algum dia vou mudar... não consigo tomar a iniciativa e isso me prova que eu nunca serei ninguém na vida. Logo após admitir a minha fraqueza, eu me culpo, pois não tenho o direito de ser fraca agora! Eu tenho que conseguir e estou atrasada para isso. Mas o medo me paralisou e eu estou agarrada com todas as forças na cadeira... minhas mãos já estão começando a doer, mas eu me agarro cada vez mais. Eu quero mais que isso mas eu não consigo dar conta nem do que já tenho. Eu sou incompetente... Eu não posso perder a minha motivação... justo agora! Mas vejo ela se tornando rala e transparente aos poucos. Eu me joguei de cabeça nas tarefas que iriam me exigir o meu máximo na esperança de que isso me fizesse esquecer outros sofrimentos... me fudi... agora acumulei tudo de uma vez e botei o pouco do que tinha restado do meu caracteristico bom humor e otimismo em risco... na verdade acho que já matei eles...
Hoje fez mais falta que nunca... ter alguém para conversar... simplesmente conversar. Contar quem eu realmente sou e quem eu tenho medo de me tornar. Contar exatamente tudo que está me atormentando nesses últimos três dias (para variar). Deixar que alguém saiba que eu sou um caso perdido... chorar.
Mas parece que não sou só eu que estou sendo prensada entre paredes.
Nessas horas eu queria tanto ser egoísta... mas não consigo. Eu sempre vejo o outro lado e culpo a mim mesma por estar exigindo algo que o mundo nunca pôde me dar e não vai ser agora que vai oferecer de graça.
Afinal eu sou EU... e EU sempre aguento a dor de boca fechada.
Ok... Eu admito. Eu quero e preciso de ajuda. Mas cara de pau (porque eu nao consigo enxergar de outra forma) me falta para pedir.
Na verdade eu devia é estar me oferecendo para ajudar. Têm problemas maiores acontecendo com pessoas à minha volta. Mas dessa vez eu não consigo assumir mais esse peso e juntar à minha coleção.
Hoje o meu companheiro foi o nó na garganta.



►Saí da aula de ética hoje me sentindo um cocô... se não fosse a desgraça que está o meu humor, eu teria adorado o fato. Mas só veio para piorar o meu dia.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

Alguém me deleta?

Começo a achar que nao vou dar conta disso tudo. A cada quarta-feira, o meu mundo roda, se mistura, sofre terremoto de escala ridiculamente alta e volta ao "normal". E todas as formas que encontrei para liberar energia, tensão ou o que for só me serviram para risadas (e boas risadas) de momento.
Minha vida piorou 40% depois de hoje. E como sempre, até quarta-feira que vem eu vou me virar, dar um jeito de ser cinquenta ao mesmo tempo, resolver tudo e e respirar fundo só a tempo de receber mais um carregamento de pressão, desespero e "WHAAAAA"!
Queria gritar, mas só gritar não adianta. Por isso mesmo vou ali começar a ler um dos enormes livros que vão me ajudar muito pouco a completar tarefas muito complicadas...


►Depois de ser bombardeada por chuva de cubos de gelo, bombardeada por tarefas do laboratório, por trabalhos, por conceitos, por doenças, por problemas, por lembretes, por detalhes, por fome, por falta de dinheiro, por dores musculares... quem é que tem tempo para pensar em vida afetiva?

domingo, 14 de setembro de 2008

Adeus você

Adeus vocêEu hoje vou pro lado de láEu tô levando tudo de mimQue é pra não ter razão pra chorarVê se te alimentaE não pensa que eu fui por não te amarCuida do teuPra que ninguém te jogue no chãoProcure dividir-se em alguémProcure-me em qualquer confusãoLevanta e te sustentaE não pensa que eu fui por não te amarQuero ver você maior, meu bemPra que minha vida siga adianteAdeus vocêNão venha mais me negacearTeu choro não me faz desistirTeu riso não me faz reclinarAcalma essa tormentaE se agüenta, que eu vou pro meu lugarÉ bom...Às vezes se perderSem ter porqueSem ter razãoÉ um dom...Saber envaidecerPor siSaber mudar de tomQuero não saber de cor, tambémPra que minha vida siga adiante.



►Los Hermanos

Inconcluível

Estou com pressa para não fazer nada. O ritmo de repente mais lento que aquele que eu apelidei de desumano me faz sentir como se tivesse perdido sustento para o próximo passo. Sim, é claro que eu transformei isso tudo numa forma de escapar de algo que mesmo assim mantenho comigo.
O clima de domingo à noite embalado por trinta graus de calor insuportável e uma semana não tão animadora pela frente... amidalite dos dois lados (o que me impede de engolir qualquer coisa sem fazer uma careta muito feia), carência musical (que já estou dando um jeito de tratar).
Por que deve sempre haver um motivo? Depois do momento em que descobri um sentido, não consigo mais viver em paz sem algum.
Para mim chega de idéias impossíveis. Pelo menos por alguns meses. Mas continuo resistindo bravamente ao sistema que tenta me engolir. O plano é aprender uma maneira de me encaixar nele e deixar que ele acredite ter me conquistado enquanto eu assumo toda a minha irresponsabilidade quando ele não estiver olhando. Que coisa perversa!
Agora há pouco parei de frente para o espelho, deixando de lado o fluxo natural de pensamentos, e vi uma pessoa diferente escondida. Um mesmo rosto para tantas pessoas... hoje o rosto estava mais inspirado. Como se aversividades de nada adiantassem para derrubar um simples sorriso. Uma pontinha de orgulho.
Nada aconteceu, nada inverteu a(s) situação(ões)... mas por um breve momento eu não precisei me espelhar no mundo para ser alguém. Eu me espelhei em mim mesma para que o mundo fosse algum.



►I cheated myself, like I knew I would...

quinta-feira, 11 de setembro de 2008

(imagine) Um bocejo

Tentei duas vezes. Da terceira resolvi admitir o fato de que não estou boa para escrever hoje. Tenho idéias que se desmancham antes que eu as conclua. Então decidi dançar a música, rir das piadas e deixar as lembranças irem embora da mesma forma que chegam.
Quando as pernas já não respondem à vontade e os olhos já não sabem o que está perto, o que está longe, o que está dentro, o que sequer está, ou é hora de dormir, ou dormir já não adianta mais. Eu estou precisando de um dia de ócio completo, sem absolutamente nada que eu tenha ou queira fazer. Meus fins de semana estão tão ou mais corridos que os dias de moradia acadêmica. E apesar da boa sensação de trabalho cumprido, me falta uma falta de ter algo em que me concentrar. Mas como eu sou eu, quando sentir que as conseqüências não serão tão severas, eu fabrico um dia extraordinário de, no máximo, leitura descompromissada e conversas verborrágicas com o cachorro.
E cheguei à conclusão de que estando no plural ou no singular, sempre haverá motivo para enxergar problema. A tendência para olhar para esse lado é o que importa na verdade. Mas é sempre assim. tem dias em que estou simplesmente miserável, merecendo um fim de existência ou um tapa bem dado na cara. Em outros eu volto a ser eu, ou o meu estereótipo de eu.


►Se houvessem palavras para acordes... melhor, para a sensação subjetiva provocada por um acorde... ouvir música pela música perderia o sentido. Algumas impossibilidades são melhores deixadas como estão. Isso só faz aumentar a minha paixão por música.

terça-feira, 9 de setembro de 2008

Pequena de idéias

Ela era pequena de idéias, se deixava responder às perguntas. Gostava de quem conseguia lhe arrancar um sorriso de surpresa. Mas nunca foi daquelas que abrem caminho pelos muros dos outros. Esperava que as portas fossem abertas a ela aos poucos. Esperava que a convidassem a entrar.
Quem sabe esteja aí o buraco que quebrou o pneu e atrasou a viagem.
Para que ela se sentisse bem consigo mesma, deveria ser outra pessoa.
Estava acostumada, mas nunca é bom ver de longe.
Ela era de muitas palavras volumosas, mas poucas palavras verdadeiramente verdadeiras. Ela conhecia intimamente o conceito de lágrima. E todos conheciam seu sorriso intimamente.
Ela era pequena de idéias, pequena de coragens.
Ela era grande de olhares disfarçados. Grande de medos vestidos de alegria.



►Pai, já ta chegando?..... e agora?.... e agora?

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

O sol torrando o meu ser

De perto, ninguém é tão bonito assim....
Portas escancaradas se fecham também.
E eu sou resiliente ao meu próprio mundo.
Bons pensamentos voltaram, boas partes de mim.
Quando terminamos de montar um quebra-cabeças de mil peças, começamos a montar o de duas mil.
Eu consigo apagar imagens e sons... mas não consigo apagar os cheiros.
E mais um dia cheio passa. E mais uma vez eu dou um jeitinho.
Dias feitos de creme de leite. Homogênios e quase sem sabor... mas quem é que nao gosta de creme de leite? Com morangos então...
Que bom que ainda encontro morangos solítários pelas esquinas da minha vida para enfeitar o meu creme de leite.


►Às vezes, quando está muito quente, presto atenção à sensação de calor e o incômodo vira experimento. Me lembro da primeira vez que fiz isso: eu tinha oito anos, carro da minha mãe, voltando para Betim (quando eu lá morava) depois da escola, por valta de meio dia, o sol torrando o meu ser.

sábado, 6 de setembro de 2008

Abstração

Só para variar um pouco... queria ser procurada em vez de sair procurando.
Perceber que o sorriso é culpa do que vem de fora e não de dentro. Ter que me convencer que é verdade em vez de me conformar com o “podia tanto ser verdade...”.
É que quem é tão idealista assim vai sempre sorrir ao fechar os olhos por mais de dois minutos. Vai sempre procurar o impossível nas entrelinhas. Vai sempre entender o que quer entender. Vai sempre achar que o ápice ainda está por vir.
Eu fui hipnotizada. Algo foi além. Juntei aquele sonho com aquele pensamento intrahipnótico. E me lembrei, e me lembrei. E que saudade eu tenho de me sentir tão bem assim.


►A volta ao dia em oitenta mundos.

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Construção

Amou daquela vez como se fosse a última
Beijou sua mulher como se fosse a última
E cada filho seu como se fosse o único
E atravessou a rua com seu passo tímido
Subiu a construção como se fosse máquina
Ergueu no patamar quatro paredes sólidas
Tijolo com tijolo num desenho mágico
Seus olhos embotados de cimento e lágrima
Sentou pra descansar como se fosse sábado
Comeu feijão com arroz como se fosse um príncipe
Bebeu e soluçou como se fosse um náufrago
Dançou e gargalhou como se ouvisse música
E tropeçou no céu como se fosse um bêbado
E flutuou no ar como se fosse um pássaro
E se acabou no chão feito um pacote flácido
Agonizou no meio do passeio público
Morreu na contramão atrapalhando o tráfego

Amou daquela vez como se fosse o último
Beijou sua mulher como se fosse a única
E cada filho como se fosse o pródigo
E atravessou a rua com seu passo bêbado
Subiu a construção como se fosse sólido
Ergueu no patamar quatro paredes mágicas
Tijolo com tijolo num desenho lógico
Seus olhos embotados de cimento e tráfego
Sentou pra descansar como se fosse um príncipe
Comeu feijão com arroz como se fosse o máximo
Bebeu e soluçou como se fosse máquina
Dançou e gargalhou como se fosse o próximo
E tropeçou no céu como se ouvisse música
E flutuou no ar como se fosse sábado
E se acabou no chão feito um pacote tímido
Agonizou no meio do passeio náufrago
Morreu na contramão atrapalhando o público

Amou daquela vez como se fosse máquina
Beijou sua mulher como se fosse lógico
Ergueu no patamar quatro paredes flácidas
Sentou pra descansar como se fosse um pássaro
E flutuou no ar como se fosse um príncipe
E se acabou no chão feito um pacote bêbado
Morreu na contra-mão atrapalhando o sábado

Por esse pão prá comer, por esse chão prá dormir
A certidão prá nascer e a concessão prá sorrir
Por me deixar respirar, por me deixar existir,
Deus lhe pague

Pela cachaça de graça que a gente tem que engolir
Pela fumaça e a desgraça, que a gente tem que tossir
Pelos andaimes pingentes que a gente tem que cair,
Deus lhe pague

Pela mulher carpideira prá nos louvar e cuspir
E pelas moscas bicheiras a nos beijar e cobrir
E pela paz derradeira que enfim vai nos redimir,
Deus lhe pague


Chico Buarque



►Eu amo proparoxítonas e essa letra é genial.

Zero

Hoje a minha mãe me ligou pela manhã para tratar dos assuntos conturbados familiares de ultimamente e por fim me perguntou, já que eu estava em casa, por que não ia resolver as questões pendentes e aproveitar para levar o almoço dos meus avós. Eu expliquei que só tinha ficado em casa hoje e matado as aulas da manhã porque eu tinha um trabalho para entregar hoje (que por sinal, apesar da resistência para ler o texto e começar a escrever, me orgulhei dele!). E ela perguntou: “Minha filha, você não acha que está tentando abraçar o mundo com as pernas não?”. Eu disse “acho...”. A resposta: “então se organiza, porque ninguém consegue fazer tudo do jeito que você está tentando fazer não!”.
Eu tive que rir disso. E por que será que eu ainda tenho essa impressão de que não estou fazendo o suficiente?

A minha vida toda é um teatrinho. Hoje eu não senti nada de autêntico ou espontâneo em mim. Nada de original. Nada de verdadeiro. Eu sou a cópia da cópia, eu busco a aprovação de um mundo que parece sempre predisposto a desaprovar, como se eu devesse minha vida a ele.
Sinceramente, eu não acredito em quão patética eu estive sendo. Buscando motivos racionais para uma coisa que não tem a menor credibilidade. Para uma coisa simplesmente besta. E como eu vou me sentir mais patética ainda se a solução para essa minha agonia vier com o que eu estou pensando.
Poxa, até parece que eu sou uma Amélia da vida qualquer! Já passou da hora de eu aprender a me sustentar sozinha.



►mais um e menos um

quarta-feira, 3 de setembro de 2008

E ainda não

Eu tentei (re)começar a ler a droga do texto. Quando termino o primeiro parágrafo, percebo que estive refletindo sobre a sonoridade da letra F. Disso passei para uma contemplação breve de como se produz cada tipo de som misturando-se movimentos labiais, da língua e o cálculo exato da quantidade de pressão do ar a passar na garganta. Da segunda vez que tentei começar a ler o texto, minha mente recitava as silabas enquanto Vivaldi “cantarolava” como plano de fundo. Então resolvi ouvir a música de verdade. Foi pior. A tentação a fechar os olhos e prestar atenção unicamente aos meus ouvidos venceu. Na terceira vez resolvi que música não iria me ajudar em nada. Fiquei apenas eu e o texto sob a lâmpada amarela. Eu, meu texto, a lâmpada amarela e a sombra que a luz amarela acima de mim produzia: o formato da minha cabeça desenhado sobre o texto. Então meu caderno e suas cores, a minha mão virada e o lembrete escrito nela que me fez lembrar da situação da Juliana pedindo indicação de oftalmologistas bons em BH que atendam pela Unimed, eu escrevendo o lembrete em vermelho na mão esquerda. Eu me concentrando no texto do Figueiredo e apoiando a cabeça justamente na mão esquerda e, depois, a Tayane e a Juliana rindo horrores da minha cara e do lembrete em vermelho carimbado na minha testa.
Cheguei então à conclusão de que não conseguiria ler o texto. Um simples e inofensivo texto sobre ética. Deve ser só pelo fato de ter que escrever um trabalho livre demais e valendo pontos demais. A situação da produção do trabalho comprova o que vou escrever nele: a liberdade é um horror!
E o meu tempo está correndo. Arrumei várias desculpas para adiar esse trabalho mais alguns minutos. O banho, a janta, a conversa sobre os problemas familiares (que aliás estão ficando cada dia mais absurdos), a conversa sobre tudo e nada com a Lika... até escrever isso aqui... mas vou ter que aceitar o fato de que se eu não me concentrar nesse texto inofensivo, as conseqüências não serão nada inofensivas.

Estou experienciando um sentimento ínfimo de... noz. Imagine ser uma noz. Sinto-me assim!



►To the ministry of silly walks, please!

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Rotina: Uma análise.

Hoje eu e o Huds competimos pelas fontes de prazer mais precárias. Acho que eu ganhei, considerando-se que uma das minhas fontes de prazer é também fonte de desconforto. Eu adoro mesmo um paradoxozinho bonito na minha vida para dar gosto.
Os dias não têm sido fáceis e eu tendo a acreditar que eu não estou me sentindo bem. Mas não posso negar que momentos pontuais de sublimação não me faltam.
Enfim... é muita coisa pra minha cabeça de uma vez só: oito matérias, trabalho prático, textos se acumulando, atividades do “laboratório” que eu saio comendo (mais que deveria inclusive), mas de que não quero abrir mão e gostaria até de ter capacidade para mais, balanças emocionais viciadas, pessoas que eu não gostaria de lembrar da existência, contradições, problemas em família, falta de dinheiro, tempo restrito e uma mãe para me cobrar todas as responsabilidades familiares que eu tenho e cumpria bem antes de entrar nessa loucura que virou a minha rotina. Junte a isso uma fome incomparável, já que não há mais tempo ou dinheiro para se almoçar nesse mundo...
Não é a toa que eu fico mau humorada quando chego em casa à noite, ou até pela manhã quando os fatos mundanos não conseguem arrancar a âncora amarrada aos meus pés.
Mas eu acho que o maior peso de tudo é justamente aquele que eu estou tentando despistar quando acumulo tantas outras coisas e ocupo a minha mente. Aquela coisinha que fica sempre guardada no fundo assim, que eu nunca permito que saia. Posso sair falando das mazelas do meu mundo a torto e a direito, mas essa coisinha, fica pra mim. Geralmente é a coisinha mais perigosa, claro. Eu posso até falar dela. Já botei ela pra fora com a minha irmã junto com as lágrimas que o álcool não permitiu que eu segurasse... Mas nem isso adianta enquanto a situação não estiver resolvida ou esquecida.
Pois é, eu vou agüentando enquanto tenho outras coisas para me ocupar. E por isso mesmo não me deixo desocupar mais. Agora mesmo tenho que fechar essa janela e começar a ler os cinco artigos (in English) que o Gauer quer que eu leia e elabore propostas de tradução e definição de três termos loucos de psicologia cognitiva até sexta feira, começar a escrever meu trabalho de ética para depois de amanhã, ler o texto para o estudo dirigido de personalidade II amanhã, terminar o livro, tomar um banho, cozinhar alguma coisa (macarrão com molho a bolonhesa e tudo que se tem direito!) para não morrer de inanição e, se der tempo, dormir.



►Desgraçada, sim, mas é bom aproveitar o bom humor! (PARREIRAS, P.S.; 2008)