quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Só não estou aqui

Eu estou aqui. À minha frente, pessoas com olhares exasperados, olhares cansados, olhares tensos. Cada um envolto em algo que não sou eu quem está vivendo. Eu estou aqui, e vejo todos. Mas eu não estou aqui. Parece irreal, mas é possível. Parece loucura aos outros saber onde eu realmente estou. Por isso mesmo, não digo a ninguém.
Eu estou no futuro. Diante de gente que ainda não conheço e sentimentos que ainda não sinto: mas quero muito sentir. Estou em uma sala, deitada num sofá escuro, à meia luz, ouvindo a chuva. Estou numa cozinha, preparando algo apimentado, estou acordando em outra casa. Estou em uma boate, contra a parede. Estou deitada na praia. Estou correndo na neve. Estou dentro de um abraço…
Só não estou aqui: não hoje.


►Algumas coisas só podem ser roubadas se eu não as segurar firme.

Tu tens um medo - Cecília Meireles

Tu Tens um Medo 
Acabar.
Não vês que acabas todo o dia.
Que morres no amor.
Na tristeza.
Na dúvida.
No desejo.
Que te renovas todo dia.
No amor.
Na tristeza
Na dúvida.
No desejo.
Que és sempre outro.
Que és sempre o mesmo.
Que morrerás por idades imensas.
Até não teres medo de morrer.
E então serás eterno.
Não ames como os homens amam.
Não ames com amor.
Ama sem amor.
Ama sem querer.
Ama sem sentir.
Ama como se fosses outro.
Como se fosses amar.
Sem esperar.
Tão separado do que ama, em ti,
Que não te inquiete
Se o amor leva à felicidade,
Se leva à morte,
Se leva a algum destino.
Se te leva.
E se vai, ele mesmo...
Não faças de ti
Um sonho a realizar.
Vai.
Sem caminho marcado.
Tu és o de todos os caminhos.
Sê apenas uma presença.
Invisível presença silenciosa.
Todas as coisas esperam a luz,
Sem dizerem que a esperam.
Sem saberem que existe.
Todas as coisas esperarão por ti,
Sem te falarem.
Sem lhes falares.
Sê o que renuncia
Altamente:
Sem tristeza da tua renúncia!
Sem orgulho da tua renúncia!
Abre as tuas mãos sobre o infinito.
E não deixes ficar de ti
Nem esse último gesto!
O que tu viste amargo,
Doloroso,
Difícil,
O que tu viste inútil
Foi o que viram os teus olhos
Humanos,
Esquecidos...
Enganados...
No momento da tua renúncia
Estende sobre a vida
Os teus olhos
E tu verás o que vias:
Mas tu verás melhor...
... E tudo que era efêmero
se desfez.
E ficaste só tu, que é eterno. 

sexta-feira, 6 de novembro de 2015

New kind of mess

A fact: never before was it so hard. Never before was it so great.
A gift and a fear.
Some people gone, some people come.
I open the doors so many times. I close them right after.
Maybe I could leave them open…
I pray.
I listen to a song. It tells me to trust.
How is it? Trusting?
I think it over… I may be thinking too much. I may be feeling too much…
I fear.
I fear and I fear.
Can I concentrate for the next one hour?
What is it I do when I write and talk about death?
Where’s my ground? It was just here…
Can this be? Can it happen? Can it change me?
Of course! It is already changing me.
Where do we go now…. Sweet child of mine?


►Butterflies

quinta-feira, 5 de novembro de 2015

Ele me disse

Eles me disseram que eu estava “sumida”. Respondi: “nem eu tenho me visto mais!”
Ele me disse de manhã, em voz cantada: “esse é só o começo do fim da nossa vida”. E eu cantei junto.
Ela, por sua vez, já me disse tanta coisa. Difícil dizer uma. Mais difícil é responder. E sempre será.
Eles todos me disseram coisas bonitas. Me senti agradecida. Então agradeci.
Mas a que sou grata mesmo? São tantos encontros, eu sempre acreditando serem, não eternos porque me parece que tempo não se encaixa, mas verdadeiros por assim dizer.
Eu não sei ser sem esperança. E sofro por me perceber vulnerável. Eu estou aí eo mundo pode fazer o que bem entender. Pareço vítima, penso em mudar, endurecer, não me importar.
Mas se eu não for de verdade, o que será?

Vou deixar Amarante dizer algumas palavras por mim: “o vento vai dizer lento o que virá”



► Já tinha saudades

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Procurar ou viver?

Até meus ídolos estão tentando. Meus amigos, cada um em seu mundo. E eu caminho só, só caminho. As pessoas fazem e dizem coisas que não lhes cabem. Outras pessoas escutam coisas e deixam que elas cresçam.
Um de meus maiores ídolos recebeu uma carta. Na minha opinião, a carta era simplesmente desrespeitosa, egoísta, descabida. No entanto, quem recebeu realmente levou a sério, se afetou, sofreu... E não parece ter percebido quão invasiva foi essa carta. Então percebo que até meus ídolos, aqueles que julgo tão evoluídos, por assim dizer, só estão tentando. Ninguém está pronto, acabadinho, redondinho. Será que aqueles que julgo também estão tentando?
Outra coisa: como é fácil perceber falhas e responder à altura quando não é comigo. Acho que cada um tem mesmo sua lição a aprender.
É difícil esse momento em que se compreende. Sinto quase uma tristeza, um luto pela minha posição mais confortável de quem apenas sofreu por culpa de alguém. É difícil achar o equilíbrio entre ser a bobona e ser a brigona. Se nada incomoda, se tudo é compreensível, eu viro a mosca morta, a vida fica difícil, não dá para sobreviver no meio dos lobos assim. Mas me tornar um lobo vai contra tanta coisa. Principalmente contra mim mesma.
É difícil tentar ser mais "a minha mãe" e ao mesmo tempo não querer viver "a minha mãe".
É difícil buscar o meu poder e saber que sou quem sou e estou feliz sendo assim, mas mesmo assim saber que tenho carências. Será que dá para ser poderosa e frágil ao mesmo tempo? Acredito que sim.... Mas será que existe alguém por aí que vai saber disso? Eu preciso procurar, ou só preciso viver?



► ela tem beleza mesmo na fraqueza

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

Das coisas de que tenho medo

Ficar sozinha
Não ter filhos
Não ter meu próprio espaço
Não ter espaço
Não conseguir escrever o tcc
Não conseguir escrever o tcc
Não conseguir um emprego
Perder amigos
Perceber que alguns amigos não são amigos
Perder possibilidades de ser
Voltar a falar com ele
Não voltar a falar com ele
Não dizer o que não consegui dizer antes
Dizer tudo que penso
Encarar um conflito
Gritar com alguém
Não aprender a não chorar
Não poder chorar
Não chorar
Morrer
Viver
Engordar
Desistir de algo
Insistir em algo
Ser vista como babaca
Ser realmente babaca
Ser irresponsável
Deixar que os outros vejam minhas irresponsabilidades
Dinheiro
Assalto
Escuro
Alienígena
Pessoas novas
Fazer o que o desejo manda na hora que ele manda

Preciso sentar agora e escrever. Preciso ir para casa fazer o que não quero fazer. Preciso me largar.

"De ti ficará apenas ti que és eterno"



►Karma.

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Vou levando

Você leva a vida. Leva pra onde for.
E se a vida fosse uma versão criança de você mesmo?
 Eu não quero o que está por vir em duas horas. Eu não quero o que está por vir em sete meses. Por outro lado, tudo que quero é que acabem logo esses meses.
 Eu não quero mais agir como manda uma coreografia só porque tenho medo de, se não for assim, não será de forma alguma. Tenho medo de não conseguir levar a minha vida até a casinha com uma cozinha antiga, um cachorro e dois filhos. A coreografia me chateia. E só me mostra que o que quer que venha como fruto dela, vai me chatear também. Eu quero que seja de verdade. Mas pra isso não tem como saber quando e nem se.
Eu não quero mais estar entre pessoas que ofendem outras pessoas, que não respeitam o espaço de outras pessoas, que não tratam outras pessoas como Pessoas. Eu quero não me irritar com palavras usadas levianamente (na verdade prefiro que elas não sejam usadas). Eu quero não sentir preguiça de ninguém. Eu quero gente que dê gosto de ver.
Eu não quero mais esperar, por mais que tudo que eu esteja fazendo seja esperar. Mas não é bem isso que quero dizer.... Esperar de alguém o que espero de mim. Prefiro buscar sozinha, se tiver que ser assim.
Agora, querer nesse momento, sentada nessa sala modelada para outra profissão, esperando duas horas passarem para poder passar por mais duas horas angustiantes (justamente o tipo de coisa que não quero mais pra minha vida)....... Sinto que não estou aqui hoje. Ou nesses últimos dias, pra ser mais exata. Não consigo estar aqui quando tenho outros lugares para levar a minha vida.




 ► did i build this ship to wreck?

sexta-feira, 24 de julho de 2015

Journey(al)

We don't just journey by tranveling far away or taking a spiritual retreat or something I saw on a movie. Journeys can take place anywhere and all the time. My personal Journey has been going to work every day. A work that, even though is going to be over in a few months, still demands a lot of me and pretty much doesn't let me do much else out of my life.
I've been feeling like my life is now in a suspension state, that nonthing can be done or changed appart from writing the danm article and dealing with this and that. Maybe I just realized I don't know what I want or will want after this is over. One thing I can say for sure: I still want the money to keep... Well, to keep living exactely like I'm living now. Maybe it will be a good thing if I don't get that. Being confortable prevents us from getting up and walking.
Maybe Julia Roberts was right about the being afraid of being destroied thing in that movie. What is there to destroy now anyway. I feel like there's only what I should build. Maybe that's where the feeling comes from. I had some confort in the idea that my future was predictable (kind of). Now it's all blind choices and people I don't know yet.
I don't hate it anymore. It's unconfortable to be around and there's still some anger. But not hate. Anyway, it's part of my story now, and therefore (love this word), will bring me another life that i could never have predicted or experienced if it weren't for the misfortune of it all. I seriously hope everyone comes whole out the other end and just... Moves on.


►We are groot

terça-feira, 21 de julho de 2015

Como passei na fase hard:

Aprender machuca. E machucados costumam doer se você tem o sistema nervoso em pleno funcionamento. Fugir de aprender dói também. Aliás, o que é que não dói nessa vida?
Agora, muito melhor doer se algo pode mudar por causa dessa dor. Alguns parecem apenas doer, sem espremer pra ver se sai um caldinho. Ontem eu fui embora porque não aguentava mais. Mas aquela era uma dor besta, forte, mas besta: dessas que só estragam parte do seu dia e mais nada. A dor que me "coisou" (por falta de palavra para dizer o que ela me fez) há seis meses já é outro paranauê. Aquela que faz parecer que há um buraco negro na boca do estômago., mas que ao mesmo tempo me fez perder 15 quilos. Que deveria ter me puxado para dentro desse buraco negro e me feito implodir, mas que, no lugar disso, me fez olhar para mim de novo e me fez querer aproveitar a minha própria companhia.
O mais estranho foi perceber o que esses seis meses se tornaram: um abismo entre duas pessoas. Fico imaginando metaforicamente: eu saltei (ou será que fui empurrada?) e fui pulando de pedrinha em pedrinha e cada pedrinha em que eu pisava, caia (como em um joguinho desses). Quando olhei para trás, lá estava ele na outra margem e, no meio, esse buraco que sobrou já que eu derrubei as pedrinhas. Não dá para voltar, não dá para ele vir... Se ele achar outra trilha para atravessar, eu já vou ter caminhado mais adiante. Porque se tem algo que toda essa dor me ensinou foi: chega de esperar parada. Chega de guiar o forró porque o parceiro ainda não aprendeu o passo. Chega de ser compreensiva o tempo inteiro. Chega de ser a culpada. Chega de tentar sozinha.
E vamo que vamo... Muita coisa aconteceu ao mesmo tempo naquele dia. No fim, senti que ganhei e que perdi. Tive dois desejos e nenhum se realizou. Não consigo evitar de pensar que foi porque eu estava sendo patética. Então mais um aprendizado: chega de ser patética! Ainda vou me sentir uma loser mais algumas vezes antes de poder dizer "é, achei!".



Aos 27anos, absolutamente NADA é certeza. Próxima fase!

quinta-feira, 16 de julho de 2015

Um corte de cabelo

Qual o valor de trocar com cem pessoas? Qual o valor de “ter” só uma? Qual o valor de uma pessoa? Qual o valor de cortar o cabelo?
Sabe quando a vida está borocoxô e pensar sobre as grandes coisas e grandes consequências das coisas abre um buraco no meio da barriga? É nessas horas que vejo o grande valor de cortar o cabelo. Quem sabe a nova pessoa que vai aparecer no espelho após um bom corte de cabelo vai saber resolver melhor essa montanha de problemas.
Outro dia uma grande amiga, em meio ao seu desabafo, me perguntou:
“Mas e você? Como está?”
E não soube responder. Não objetivamente. Na tenho palavras para descrever o sentimento de estar prestes a estar desempregada, sem perspectiva de outro emprego, se cobrando produção escrita e gastando boa parte do tempo se distraindo, não conseguindo se concentrar, se adaptando a uma vida diferente daquela de seis meses atrás, enfrentando uma enxurrada de bullshit , mas no fundo nem se importando tanto porque em breve nem estarei mais lá para precisar me importar com coisa alguma agora. Como chama esse sentimento? Eu chamei de “estou alheia”.
Como uma laranja seca... é difícil espremer algum caldo. Até o bagaço fica difícil de mastigar. Estamos precisando comprar mais laranjas aqui em casa.
Qual o valor disso tudo que estou fazendo quando não estou fazendo nada? Qual o valor de atravessar esse deserto em que esse ano está se transformando? Qual o valor de um corte de cabelo? Vai custar uns R$75,00...



► olhos semicerrados...

quinta-feira, 9 de julho de 2015

"Everything is different the second time around"

É... eu já escrevi muita coisa. Eu já fui boa em muita coisa. Eu já estudei, já me estabaquei, já me decepcionei, já chorei bastante (e põe bastante), já viajei, já mudei demais. Há alguns dias me percebi numa rua pavimentada de pedras abauladas, daquelas que fazem ser difícil andar e olhar para a frente ao mesmo tempo. Desenvolvi a técnica que os nativos parecem dominar de caminhar de cabeça erguida, mas não sem um tremendo esforço de concentração nos pés. Então eu viajei (no meio da viagem literalmente falando) sobre esses momentos em que me pego existindo. Não faz lá muito tempo que me pegava existindo como uma estudante de faculdade envolta em seus dramas amorosos e seus trabalhos feitos sempre no dia anterior da entrega. Não posso dizer que tudo tenha mudado: ainda há muito drama e muito trabalho sendo feito às pressas no dia anterior! E cá estou eu, existindo aos 27, a vida uma zona, as certezas meio capengas, as expectativas voláteis, a lembrança recente de um genial novo filme da Pixar, as irritações de sempre, mas de cara nova, a vontade de ser de novo só que como nunca antes. É engraçado... a vida faz dela mesma uma piada. Sempre me surpreendo quando percebo que mudei. Mas tanta coisa continua igual: li algumas coisas que escrevi há mais de cinco anos e já tinha opiniões que me definem até hoje. Acredito que na verdade fui mesmo é aprimorando e preenchendo as lacunas daquilo que ainda não tinha pensamentos formados a respeito. Mudar de opinião existe também. Será que ainda sei escrever?
Muitas coisas me trouxeram aqui hoje. Digo: aqui, escrevendo nesse antigo, quem sabe novo, blog. Uma pessoa que eu não conheço, uma viagem repleta de inspirações, uma pessoa que não me conhece. Me lembraram como é bom colocar para fora e registrar alguns pensamentos. Me lembraram que eu posso ser boa (razoável) nisso. Me lembraram principalmente que ter um "diário" é como ter uma máquina do tempo surreal. Vamos ver se vai dar liga!



►Chego em casa para ver mais um episódio daquele seriado-muito-genial-que-eu-comecei-a-ver-outro-dia.