quinta-feira, 8 de abril de 2010

Pronome

Meu corpo tem limites, ele acaba onde não há mais eu. Eu estou por aí, em todos os cantos. Meu corpo, mesmo assim, ainda é meu limite. Costumo pensar que sou menos quando meu corpo e suas funções são menores, em comparação com uma média de uma população maior que trinta para que se obtenha uma curva normal. Na verdade sou o que faço de meu ser. Eu sou um corpo que não salta, não tem força, não venceria uma luta contra uma tiazona, corre, mas perde o fôlego, come e acumula o que comeu em lugares esteticamente mal vistos pela mídia. Mas apesar das tendências de minhas heurísticas ingênuas, eu não sou o que já fiz, onde já estive ou a minha aparência. Eu sou eu. Sem nome, sem cor, sem atributos descritíveis por terceiros. Eu sou essas palavras que se seguem em uma ordem quase lógica. Afinal, a linguagem é o que nos carrega e nos corta. Parece que a linguagem é tudo. Gostaria até de me saber ser em várias outras linguagens. Tem também as paixões. Essas sim podem chegar perto de quem eu sou. Ou, como a Claudia diria, quem eu estou sendo. Eu sou mais um eco de freqüências sonoras caóticas e assimétricas. Eu sou também a representação copiada de uma idéia que ninguém teve. Se deus existisse, ele seria essa idéia. Eis o porque de seu vazio. Eis o porque de meu vazio. Eu não sou absolutamente nada. Se eu morrer amanhã, provavelmente não vou morrer feliz ou realizada. Mas o que é que quero realizar? Quando penso me vêm lugares que eu nunca vi, reações viscerais que nunca experimentei. Idéias que tenho de coisas que me contaram. A experiência de não ser eu limitada ao meu corpo. Também não morreria feliz graças ao medo que tenho da morte. Mas como eu poderia saber disso depois de morrer? Tenho medo de que eu seja apenas uma rede de conexões neurais que provocam sensações sinestésicas que me dão a impressão de estar tendo impressões das coisas. Não sei o que me mantém transmitindo sinais eletroquímicos, ou o que iniciou isso tudo. Não sei, principalmente, se algo restará do mundo quando esse ciclo tiver um fim. Não sei imaginar um mundo onde eu não imagine. Pois imaginar é uma reprodução, uma projeção na parede da mente de coisas que eu senti ou sinto ou antecipo. O que é a minha mente? Quer saber? Por que parei de estudar isso? Esse é obviamente o meu maior interesse já revelado. Algo que diz de algo que eu seria se algo eu fosse. Como disse o filósofo terapeuta corporal reichiano que acabo de ouvir falar: vai tentar escrever poesia... vá escrever poesia! Mas deixe-se possuir por isso! Será que sou o que me possui. Será que possuo o que sou? Eu participo da minha ação como se desempenhando um papel. No final das contas, o que seria eu se não essa própria pergunta? (leia a ultima frase novamente)

►Este foi um surto de inspiração. Tudo começou com o DVD que meu psicólogo me passou de para casa. Logo estava postando frases de efeito para a posteridade no twitter. Percebi que era hora para um bom momento eu – teclado.