terça-feira, 22 de julho de 2008

Uma minha pérola

Como seria não ser nada se não um pensamento? Ter tudo dentro da cabeça, mas não conseguir comunicar a ninguém. Não poder interferir no mundo exterior. Existir mas não poder estar em algum lugar. Se a existência cartesiana fosse a ÚNICA existência.
De que adiantaria ser apenas um observador do que há de “externo”?
Como eu esperava, estar estudando filosofia da mente e assistir O Escafandro e A Borboleta provocaria algum tipo de inquietação. Eu sempre tentei imaginar uma mente solitária num espaço vazio. Na verdade eu sempre me incomodei demais com o vazio. Por não conseguir fazer idéia de como o vazio absoluto pode ser.
Mas parece que há algo mais apavorante. Justamente estar lá e estar impotente. A mente sobrevive ao acidente, em vez de morrer junto ao corpo.
Eu sabia que em algum ponto desse pensamento eu iria enfiar algum assunto transcendental ou espiritual... mas é aí que reside o meu extremo medo da morte (e acredito que seja o mesmo medo que todos tem). Se o corpo morre, mas a mente não. Para onde ela vai, e fazer o que?
Algo pior ainda seria se a mente morresse junto ao corpo. Se os materialistas estão com a razão e, um dia, a neurociência conseguir encontrar a cede da mente no cérebro, então é claro que com a morte do cérebro morre a mente.
Isso, para mim (e esse é um dos primeiros pensamentos filosóficos terroristas que eu produzi) significaria o fim de qualquer existência. Por quê? Ora, como é que eu compreendo o mundo se não pela percepção subjetiva que eu tenho dele? Eu nunca acreditei em um mundo objetivo que está lá independente da minha existência, apenas esperando que eu o experimente, pois eu não posso ter garantia disso. Tudo que eu posso saber é que agora estou batendo as pontas dos dedos em quadradinhos pretos com letras impressas... mas isso é apenas uma percepção. Não estou falando que o meu teclado não existe... para mim ele existe e muito! A questão é que, se minha mente morrer com meu corpo, não haverá mais uma “eu” observadora aqui para poder abstrair essas percepções subjetivas do mundo. Se a minha mente acabar, eu não vou mais poder perceber o mundo, então o mundo irá acabar. É um pensamento muito megalomaníaco, mas ninguém jamais conseguiu me convencer de que ele não está correto. E agora o Teixeira me vem falar de Materialismo e Dualismo... devo admitir que o materialismo me assusta...
O dualismo, para tantos filósofos, parece uma crença quase religiosa... sempre criticado por estar envolvido com alguma visão mística incompatível com a cientificidade que todo acadêmico parece buscar incessantemente. Mas não é que essa é mais uma forma de buscar um conforto? Só que aqui o conforto não está na ignorância do futuro incerto, mas na adoção de uma visão mais “otimista” desse futuro. Como uma pessoa que passou pela rebelião normal de adolescente e descobriu que acreditar em deus não faz sentido, que isso é uma simples fuga da insegurança que a incerteza traz. Mas e se essa pessoa, mesmo sabendo dessa face enganadora que a religião tem, encara a incerteza de frente e se apavora de tal forma que decide voltar à segurança por vontade própria.
Existem dois tipos de pessoa: os que fogem desesperadamente das perguntas que não podem ser respondidas porque não suportam o silencio que as segue, e existem as pessoas que buscam justamente essas perguntas, pois á na indagação infrutífera que encontram prazer. Não me peça para explicar por que se é de um jeito ou de outro... mas eu me declaro com convicção uma pertencente ao segundo grupo... e isso nem sempre é uma vantagem tão grande... há uma certa solidão instalada da qual não se pode reclamar pois ela fez parte da escolha consciente.
Então, esses filmes, livros, assuntos que me fazem buscar pontos de vista que me apavoram sempre me trazem um grande prazer e um grande desconforto juntos.
Mas eu já me condicionei a acreditar que esse desconforto é sempre apetitivo. Ele me faz pensar demais, me faz escrever demais, me faz entrar em parafuso, me faz me sentir inteligente, também me faz sentir um certo orgulho do status que me convenci que tenho por ser um desses infelizes que saem correndo atrás de sofrimento só para poder reproduzir a dor em forma de beleza.
Eu posso nem chegar perto de um artista renomado aos olhos de um crítico de arte (até porque esses são sempre uns cuzões)... mas aos meus olhos, a mera arte que produzo me faz me sentir a protagonista do mundo.



►Comentários e temas cabem em momentos específicos e a pessoas específicas... acho que é por isso que eu adoro gente flexível como eu, que se diverte em qualquer contexto...