segunda-feira, 21 de julho de 2008

E eu nem vi passar...

Quando eu era pequena, eu sempre passava uma semana das minhas férias na casa das minhas tias na Barroca e a semana seguinte na casa da minha avó em Santa Tereza. Religiosamente! E tem algumas imagens que viraram ícones dessas épocas. O quadradinho de luz do sol que aparecia no chão da copa da casa das minhas tias todo dia às quatro da tarde. O sol entrava por uma fenda que tinha no telhado na varandinha que tem atrás da copa. Esse quadradinho de luz sempre estava ligado com o bolo de chocolate da tia Nely. Era nessa hora que ela sempre interrompia a nossa brincadeira (minha e da Lika) com as miniaturas com que a gente brincava lá para lanchar (a gente sempre mantinha brinquedos nos lugares que freqüentávamos mais... na casa das minhas tias eram as miniaturas, a caixa de lápis de cor, e lá geralmente fazíamos massinha caseira e mexíamos com tinta e coisas do tipo).
A casa da minha avó tinha sempre um clima mais ocre, mofado e envelhecido. Nós vasculhávamos as gavetas de um quarto que ficava do lado da copa e achávamos vasilhas vazias, pastilhas de plástico que eu nunca descobri de onde vieram e pra que serviam, mas que a nossa imaginação transformou em moedas (cortamos um bloquinho de papel e transformamos em talão de cheque e brincávamos de banco). Lá também guardávamos bonecas velhas que tinham sido da minha mãe quando ela era pequena. Quando minha avó estava no Centro trabalhando, nós ficávamos sozinhas na casa com o meu avô. Na época ele era extremamente frio e ficava o dia inteiro no quarto assistindo tv. Então, eu e a Lika íamos no barracão que tem atrás da casa, subíamos no sótão, corríamos pra lá e pra cá... não era preciso muita coisa para me divertir (nunca foi né..)
Engraçado que algumas dessas coisas que eu lembro já são tão absurdas. Como a minha avó sem paciência com a gente (eu, meus dois irmãos e meus dois primos) brincando de lego em cima da mesa e ela querendo servir o almoço. Ela ficou tão nervosa porque não dávamos ouvidos a ela quando pedia para a gente juntar os brinquedos que varreu a mesa com o braço, espalhou pecinhas de lego pela casa toda. Eu nunca me assustei tanto com ela. E hoje ela é tão vulnerável... nem parece mais a mesma pessoa.
E quando meus pais se separaram, íamos nos fins de semana para a casa do meu pai em Betim (ele ainda mora lá), e lá estavam guardados os bonequinhos dos cavaleiros do zodíaco que a minha avo tinha dado ao meu irmão e ele não gostava mais... lembro de quando eu ainda morava lá em Betim e enterrei um monte de clipes no canteirinho de flores que ficava em baixo da janela do meu quarto (ainda devem estar por lá)... o dia em que eu quebrei o abajur do meu quarto com um balão e a minha mãe ficou puta. Quando minha mãe tinha acabado de comprar dois pastores alemães e nós passávamos a tarde toda correndo com eles no terreiro. Quando eu e a Lika passávamos um dia inteiro montando a coleção de móveis e coisinhas de Barbie que tínhamos e desistíamos de brincar depois de montar tudo porque já tinha perdido a graça.
Hoje quando acordei comecei a pensar nessas coisinhas e uma foi puxando a outra. Me lembrei de inúmeras imagens em flash de coisas em que não pensava há anos.
Essas coisas foram passando e eu nem vi passar... Quando percebi, o cotidiano já tinha se tornado nostalgia...
Engraçado... não sei de onde veio o primeiro pensamento.
Eu sequer tive um sonho parecido com isso...
E, aliás, que absurdo o meu sonho! Podia virar filme até! Mas como eu tenho o dom de mudar de assunto sem controle, acho melhor limitar esse post a um post nostálgico. Como se esse texto fosse um álbum de fotografias em palavras.


►Oh, céus... como eu amo burocracia!