domingo, 10 de agosto de 2008

O demônio que há em mim

Quando as tensões vão se acumulando no peito - e isso é uma costume meu – a ultima coisa que se precisa é de alguém fazendo gracinha e piada para tentar fazer você rir. O melhor remédio para esse mal é encontrar alguém incrivelmente irritante, para poder descarregar, se não tudo, pelo menos uma grande parte da raiva, tristeza, receio, frustração, impaciência e o escambau condensados juntos.
Foi por isso que, acredito que pela primeira vez, a Fê me viu com raiva e apelando. Eu NUNCA fico com raiva na frente de ninguém, excedo nesses dias em que a tensão está na borda. Por motivos como a Fê puxando o meu fone de ouvido (e quase o estragando) porque eu estava “autista” ouvindo música na minha enquanto todos estavam conversando animados (animação essa que no momento estava me irritando horrores).
Ontem eu ainda tinha uma companhia mau humorada (a minha irmã, e tenha medo dela quando ela está assim!) para descarregar a raiva do dia. E já começamos a descarregar na Pintadinha (apelido carinhoso que damos à professora CHATA, IRRITANTE, INSUPORTAVEL do francês). Aquela mulher tem O PIOR método de ensino já inventado. Ela ficava interrompendo a linha de raciocínio para corrigir picuinha de pronuncia com aquela voz chata e ficava falando “gente, vocês já estão no F3!!! Gente, não acredito que vocês não estudaram francês nas férias!”. Depois do francês fomos no carro xingando deus e o mundo. Almoçamos no Itaú (que inferno!) e praça de alimentação de shopping de gente feia e burra é um ótimo lugar para xingar pessoas! Me aparece uma manada de dez menininhas de uns doze, treze anos, cada uma com uma câmera, todas apontando para o espelho em baixo da escada rolante e tirando fotos... depois elas resolvem sentar na escada em fileirinha degradê todas com a mesma pose tirando as fotinhas ridículas delas só para depois colocar no orkut, daí aquele meninos burros, que são populares justamente por não estudarem e não terem responsabilidade alguma, que usam aquelas bermudas ridículas com nike shochs e colar de bola no pescoço, topetinho e sorrisinho nojento deixarem um comentário falando que a ridiculazinha lá ficou gatinha na foto. Daí ela vai ficar umas três semanas gritando estridentemente se gabando do ridiculozinho ter falado que ela é gatinha. (SOCORRO!)
Então resolvemos comprar presentes de dia dos pais, na véspera do dia dos pais, na renner, às duas da tarde, em shopping de jacu de contagem. Imagine o prazer que foi entrar naquela loja, entrar na fila gigante do caixa, ouvir aquelas conversas de piriguete perguntando pro namorado horroroso se aquela lingerie tava grande demais...
Bom, daí voltamos para casa e os motivos para xingar e amaldiçoar até a oitava geração dos seres que nos atormentaram tinham acabado.
Então fui para a casa do Fefs. Ele estava dando uma tequilada. Eu estava de carro e não bebi. Mas uma das melhores coisas em mim é que eu consigo atingir o estado de embriagueis sem álcool algum. Provavelmente baseado em adrenalina. Eu dancei até conseguir dores especificas em cada uma das partes do meu corpo. Consegui dores muito improváveis. Minha roupa estava encharcada, como se eu tivesse pulado em uma piscina. Meu cabelo ficou um horror. Gritei até perder a voz. Dancei Dandalunda (a música nostálgica que eu, Fefs e Bebeth dançávamos na oitava série que literalmente quebra as suas pernas), cantei “Gato Cachorro, Gato Perro” com o Laranja, quem não via há séculos, dancei loucamente com o João que estava trêbado já.
Voltei para casa dirigindo loucamente porque não sentia as minhas pernas e queria vento. Então estava a cem numa rua com limite de sessenta por hora.
E sabe o que é o melhor disso tudo? Toda essa parafernalha que eu arrumei para descarregar energias acumuladas não matou os motivos que eu tenho para acumulá-las. Ontem foi um dia ótimo, porque nos momentos em que estava descarregando a minha desdém em seres desafortunados ou me acabando ao som de Ting Tings eu me senti extremamente bem. Mas enquanto eu mantiver os motivos aqui dentro, a raiva, a tristeza, a frustração, a desmotivação vão se acumular novamente.
Quem me dera se eu soubesse como me exorcizar desses motivos e voltar a viver mais serenamente. Eu tenho agido como um bicho frágil perdido no meio de uma floresta densa, sempre desconfiado de que vai aparecer um predador, sempre olhando em volta com olhar assustado. Eu não estou conseguindo me concentrar em mim mesma, e as únicas chances que me dou para isso são essas ocasiões em que me dou o direito de apelar com um amigo, de xingar até a alma de gente que não tem nada a ver comigo, de me entregar a momentos sem noção e acabar com o meu próprio corpo.
Atestado: isso não está fazendo bem para mim. Cheguei mais uma vez em um daqueles estados limite em que eu PRECISO finalmente fazer o que estive evitando, quase que esperando que esse limite chegasse.



►Fim.