domingo, 7 de outubro de 2007

Notável artista sem idéias

Eu tenho uma boina e não tenho medo de usá-la!
Não mais.
Auto estabelecimento fictício. É daí que vêm as piores idéias.
Ainda não sei por que continuo tentando me convencer de que sou responsável. Eu já deveria saber de antemão que não iria estudar.
E o mais interessante e provavelmente menos novidade, é que eu não me importo nem um pingo.
Eu fico internalizando estórias e querendo criar uma própria.
Eu desanimo no momento em que percebo que as coisas mirabolantes das minhas próprias estórias não poderiam ser verdades.
Algumas já foram verdades, e eu acabo as colocando no meio das estórias por sentir saudades.
Eu sinto saudades de coisas tão difíceis de dizer.
Eu sinto saudades de sentir o coração na garganta, é isso.
Às vezes acho que vai ser difícil tais sentimentos me atingirem de novo. Seja lá como ou onde ou por que.
Essas linhazinhas finas se misturam umas nas outras. Vira tudo um bolo colorido, parecendo bola de pelos.
Fico alguns minutos me olhando no espelho. Percebo algumas belezas, vistas de alguns ângulos que eu mesma desconhecia.
Depois olho novamente para o meu caderno. Aquele que fiz com o intuito de me transferir para dentro dele, e tudo que imagino é que a intenção excedeu por muito a realidade.
Sempre é assim. As intenções ficam apenas na cabeça.
Cássia me ensinou, com o seu menino cabeçudo, que o sentido não está no texto, e sim no leitor.
Esse é um dos ensinamentos que mais reaparecem na minha cabeça no meu cotidiano.
Sinto o esôfago se encolhendo.
Sinto as pontinhas do cabelo fazendo cócegas no pescoço.
Sinto coceira na parte interna da batata da perna. E sinto um nervinho que não deveria estar ali. Que nervoso!
Como um pedacinho de matéria orgânica, e o problema do esôfago “nom plus”.
Metade da minha visão direita é tampada agora. Acho que estou enxergando numa faixa de ¾ da realidade.
Me imagino de óculos às vezes.
Me recuso a contribuir com coisas que não concordo.
Fico ali no canto sentada, olhando para todas aquelas pessoas absortas, pulando como macacos, gastando suas energias, agindo como idiotas por diversão, e me lembro de coisas que não queria que voltassem á minha mente mais.
Não acho ruim me lembrar. Mas lembrar provoca a queda de algumas fichas.
Sinto saudades.
E aí sinto silêncio.
Cansei de me perguntar sobre o sentido do que faço, sobre o caminho que tomo, e sobre o meu valor comparado com o valor daqueles que se posicionam perante mim como que pomposamente.
Para tais perguntas, apenas fecho os olhos e coço a nuca num ato displicente.
É quando a minha mente se esvazia que as coceiras chatas vêm.
Queria poder dizer algo a mim mesma, que me acalmasse dessa calmaria. Que me convencesse de que eu mesma sou capaz de compreender esses movimentos de dedos e correntes bioelétricas.
Acho que vou me retirar e apenas botar em pratica meu ritual “esquece os problemas”.
Comer até me sentir um balão, depois dormir sem sonhar com nada. A comida elimina superficialmente o sentimento vazio de não saber e não querer pensar. A cama, acrescenta mais um grande, indefinido, quase eterno, momento de vazio e solidão.


►Entrando no vazio confortável da barriga cheia.