quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Crise existencial em dez passos:

1. Eu detesto dogmatismo. Sinto uma enorme preguiça e sempre me parece tão imaturo venerar algo com tanta paixão que todas as respostas e todas as frases e todas as reações tem uma assinatura irritante daquilo que se venera. Acho que veneração deveria ser proibida por lei em prol de pessoas mais sensatas e abertas a verdades e mentiras.

2. Não faz muito tempo, eu nunca argumentaria tão fervorosamente como tenho feito. Parece que perdi uma parcela daquele medo que eu tenho de ofender ou decepcionar quando eu me posiciono. Eu sempre tive esse medo de ser alguém. É muito mais fácil só ser quem os outros dizem que eu sou. Mas chega uma hora que é informação demais para se ignorar fingindo ser a famosa average person.

3. Por trás das escolhas que não escolhemos se escondem todas as pessoas que poderíamos ter nos tornado. Mas o que aconteceu aconteceu. Já não poderia ser de outra forma a partir do momento de cada escolha. Dá uma impressão de destino controlável. Dá uma impressão de livre arbítrio determinista. Afinal escolhemos a cada segundo quem vamos ser aos olhos de outros e aos nossos próprios. Mas quem foi que disse que controlamos nossas escolhas? Simplesmente nos entregamos à vontade de nós mesmo. Engraçado pensar assim não? Cheguei a uma espécie de meio do caminho entre escolha e destino onde estou nos dois e em nenhum.

4. É nas discussões e nos argumentos que eu descubro quem é essa pessoa presa dentro da minha pele. Você não conhece o adversário até ter lutado com ele. Meu adversário sendo eu mesma e a luta sendo a simples classificação do mundo. As teorias do desenvolvimento de Vygotski e Piaget não previram o liquidificador no qual jogamos o mundo a cada novo problema. Ninguém previu que a incerteza traria esse sentimento de segurança apavorada. Afinal, ninguém no mundo prevê paradoxos.

5. Eu sei muito bem como é essa empolgação gostosa quando descobrimos o conhecimento mágico que parece fazer o mundo fazer sentido. Parece que a própria vida e o próprio caminho ganham motivo de ser. Mas quão imaturas são essas idéias eufóricas quando a cada momento se une mais um número à soma. Dois mais dois nunca vai continuar sendo dois. Como é que se planeja um fim quando o caminho é feito de gelatina? Onde é que vou chegar quando essas minhas idéias mágicas já forem apenas idéias passadas?

6. O que é futuro? Já ouvi falar disso antes, mas não lembro onde. Quem sabe pela boca da minha mãe ou pelos livros que cruzaram o meu caminho. Mais um paradoxo bate à minha porta. Eu faço planos para a próxima década, para o próximo ano, para aproxima chance, para a próxima responsabilidade. E mesmo assim não confio na minha capacidade de me sustentar eu mesma até o próximo amanhecer.

7. Onde estou? Eu sou alguém? Eu quero ser alguém? Alguém quer ser alguém? É possível querer alguma coisa? O que é que estou fazendo com a minha vida? O que é uma vida? O que é vida?

8. As respostas vão vir quando eu menos esperar.

9. E logo atrás das respostas virão perguntas piores. Certo comediante britânico disse que se um dia descobrirmos todas as respostas filosóficas para a existência e para as questões complexas que regem o universo, este será imediatamente substituído por algo ainda mais complexo. Dizem que isso já aconteceu.

10. Esse papo me deu fome... Vou fazer um macarrão!



►Estava procurando algo para escrever e de repente chegou esse espírito e me encarnou.