segunda-feira, 5 de maio de 2008

Quem, eu?

Um dia eu me olhei no espelho e comecei a me perguntar sobre o que há de mais básico nesse ato. O que a minha imagem representa... para mim mesma. Eu me vejo séria. Quase sempre com olhos muito abertos. Alguém que é tão apaixonada por expressão facial, não se reconhece numa careta. Eu não me reconheço. E quem é que vai vir me dizer quem sou eu?
Naqueles cantos escondidos e escuros do pensamento, existe sempre alguém. Eis que eu me reconheço ali: sentada no chão, entre o fogão e a parede, brincando com uma caixinha vazia de remédios. Essas poucas imagens de coisas que não me lembro. Essas lembranças de coisas que não aconteceram para mim. Será que eu era outra pessoa? Quem é aquela menina de dois anos, usando um macacãozinho rosa? Não me reconheço ali. Me vejo ali mais como se visse a uma filha minha (e por que não?).
Se o meu futuro está à frente de mim, onde estou eu?
A pergunta que não quer calar: onde é que eu fui me meter? Parece que não tem juízo na cabeça... e não tem mesmo! Se eu não fosse eu, gostaria de ser. Ironia.
Eu procuro complementação para aquilo que eu mesma não sei completar. Daí penso: as coisas que não me fazem falta... ou não fazem AQUELA falta... São as coisas que eu mesma resolvo sozinha? Narcisismo berrou em mim agora. Eu não sinto falta do ato, e sim da companhia. Eu não sinto falta do lugar, e sim do motivo para estar lá. Eu não sinto falta das palavras, e sim do que elas querem dizer.
Quem é você aí? Onde foi que me encontrou? Porque está aqui agora? Qual a minha relevância, afinal? Se você for eu mesma, por favor, jogue fora todas aquelas tralhas que você acumula no armário e aprenda a viver no seu próprio corpo.
Engraçado. Eu já joguei fora. Morro de rir da falta que a falta faz. Morro de rir das coisas que acontecem quando eu me afasto. Morro de rir quando não vejo mais o significado que sempre esteve ali. Não é melancolia! Saio pulando de bloco em bloco. Me prendo a cada um em seu tempo. Depois esqueço. Depois deixo pra lá. Saio pulando por aí. Eu não deixo uma parte de mim em nenhum... pelo contrario: trago comigo uma foto de cada. Eu sei olhar e sorrir. Agora basta formar as frases.
Mais uma mistura completa.
Eu sou assim... como falar daquilo que não se conhece. Apenas se tem um vislumbre. Como pensar em sexo, como saber de amar. Como gritar no escuro. Como correr em esteira em frente a um filme rodando.
Eu não durmo mais. Eu ligo o stand by.
E você... você que piscou para mim por meio segundo, sem saber que eu estava observando cada detalhe, guardando uma foto mental para poder visitar o momento depois. Você que não sabe o tamanho da diferença que fez, mas tem uma idéia de como eu anseio por sua presença. Você que conseguiu o que queria e me envolveu nessa historia. Você que não sabia o que queria, mas me envolveu mesmo assim. Você que veio e se foi. Você que veio e ficou. Você que ainda está aqui. Você que ainda virá. Você está sempre aí. Não importa se esteja de fato. Eu posso te ver daqui e isso basta. Pense em mim de vez em quando... não sabe o bem que isso me faz!
Os outros são um só. O mundo tem duas pessoas: eu e você. O mundo sou eu. A vida no mundo é você.
Quem é você? Não sei! Diga-me você!




►Em vez de criar vergonha na cara e ir pra cama, tive um surto de palavras.