Colecionamos coisas porque o sentimento de posse se assemelha ao sentimento de poder. Mas é tudo besteira. Afinal poder é uma coisa tão volúpia que acho que ninguém realmente o segurou nas mãos por mais que um instante iluminado. Afinal, colecionar lembranças não dá o poder de mudar o passado. Colecionar planos não dá o poder de influenciar o acaso. Colecionar amigos não dá o poder de mantê-los sempre por perto. E a mais irritante de todas: colecionar conhecimento não dá o poder de saber a resposta.
Mas o que fazer? Continuemos a colecionar, já que não sabemos fazer diferente. Eu pelo menos não sei. Colecionar pensamentos não me deu o poder de mudá-los.
Eu tenho um ódio saltitante que visita esporadicamente e, sejamos francos, ele sempre esteve ali, mesmo antes dos motivos atuais ou dos imediatamente anteriores. Mas como eu refleti nessa terça feira durante um longo almoço, tem um ponto na vida em que você começa a viver. Antes disso você era só um vegetal, tipo uma alga que se inclina com o movimento da água. Eu passei a viver quando eu tinha 16 anos, quase 17. Então contemos o tal ódio a partir daí.
Agora, nesse momento, não sei se o ódio ainda é da situação (o que é ridículo da minha parte, depois de meses), ou se é da minha inércia, ou limitado repertório comportamental. É que eu me sinto pra trás. Perdendo a corrida.
Acho engraçado como eu passei tanto tempo sem pensar nesse assunto. Eu estava atormentada demais com burocracias, (in)definições sobre o meu futuro, música e turbulências de outras vidas. Acho que a minha não esteve muito turbulenta... o problema é justamente esse marasmo.
►Até que um dia chegue e me prove o contrário.