Eu vou escrever um livro com o meu orientador. Nem tenho noção da proporção de pavor e euforia nessa história. E ainda me surpreendo com a sorte que tive em conseguir um orientador tão foda.
Estou tensa o tempo todo. A eminência de alguns pensamentos já me deixa receosa. Ainda mais quando esses pensamentos são eliciados por presenças indesejadas. Tem hora que desejava apagar a existência de uma ou duas pessoas.
Sinto que minha vida foi roubada por alguém que está conseguindo vivê-la melhor do que eu. Que raiva!
Tenho algumas idéias empolgantes. Mas elas vão me dar trabalho. E no momento, minha energia está escassa. Eu sou um Sim com barrinha de humor vermelha.
Estou com medo do relógio. Às vezes acho que eu dou conta e que o cansaço é drama meu. Porque é muita coisa na cabeça, mas que se eu soubesse lidar melhor com isso produziria muito mais. No fim das contas eu sou eficiente e entrego a encomenda. Mas é pouco. Meu currículo Lattes está vazio, eu sou lisa academicamente. Estou no sexto período e o que eu produzi até agora? Pior é que já produzi, mas não tem como desenterrar vinte artigos publicados do nada. Não tenho nem idéia de por onde começar para tomar esse caminho complicado. E o pior: começo a ter duvidas sobre as minhas bases. Se eu estiver no caminho errado voltarei à estaca zero, e vou mais uma vez me sentir empacada, inferior.
Claro que esse medo é reflexo de outra coisa. Não tenho conseguido me atribuir valor nas, digamos, relações sociais. Então sublimo para esse meu sonho de futuro acadêmico e me espelho no meu orientador que é no mínimo algum tipo de prodígio que aos 30 anos já tinha doutorado no exterior. E então o ano acaba. E eu vejo que em um anos de trabalho duro e de cansaço emocional ao extremo, parece que só subi um dos mil degraus que preciso enfrentar.
Me aparecem coisas novas. Esse livro que virou a alegria do meu coração desde ontem. Tenho algo em que focar minha energia quase inexistente. Tenho mais um passo certo. Mas a vida está tão confusa que no meio do dia me pego me perguntando sobre o que eu realmente estou querendo com isso tudo. Se não estou seguindo o caminho mais difícil só porque ele é inevitavelmente mais fácil...
Então me fazem lembrar de coisas há muito deixadas de lado. Volto a me sentir... considerada. Mas da forma que não queria mais ser. Parece que não posso mesmo conseguir o que quero pelos caminhos saudáveis e tranqüilos. Duas figuras que doem. Por motivos diferentes, mas é uma dor parecida.
Eu estou visitando uma área perigosa de mim. Desde o inicio desse semestre. Minto, desde o inicio desse anos, tudo que estou fazendo e aumentar as incertezas sobre as coisas mais certas pra mim. O pior é isso. Eu sei muito bem o que faz meu espírito embrulhar de euforia. Mas eu sei também das falhas, dos argumentos contra, das frustrações antecipadas.
Sabe-se que felicidade é inversamente proporcional a conhecimento...
O que fazer agora que já estou no meio da estrada de terra sofrendo insolação? Voltar pro lugar de onde vim e aceitar o fracasso é tão doloroso quanto continuar andando em frente sem ter idéia da distancia que falta para chegar ao destino. E pode ter certeza que falta mais que isso!
Eu queria ajuda. Mas não tenho meios pra isso. Por isso estou correndo atrás de meios. Vou conseguir um emprego e serei English teacher no Mai ou no Greenwitch. Em resumo vou assumir um compromisso pesado, aumentar o fardo sobre os meus ombros, quem sabe adoecer só para poder ter o direito de ter uma atenção externa... alguém que ouça tudo isso que passa tanto pela minha mente e tão pouco pela minha língua.
Quando não há certo e errado então tudo pode estar errado. Para onde ir? Acho que vou mesmo é continuar vivendo às metades e aos inteiros. Acho que não vou fazer nada.
Minto, vou fazer o trabalho de ética e suicídio, o trabalho de personalidade II sobre psicologia cognitiva, o resumo do Varela, o relatório de escolar, a prova de psicopatologia II, a leitura sobre evolução e consciência, a carteira de trabalho, levar o currículo no Mai, preencher o Lattes, corrigir testes e preencher planilhas...
►Sem perceber, os rabiscos viram idéias. Algumas idéias são grandes demais para caber dentro do meu crânio.