terça-feira, 27 de novembro de 2007

Deixei a minha mente viajar sozinha. Agora espero pelo seu retorno.

O sentimento que se tem quando a última pagina do livro é virada. Sempre gostei dele. Me faz ter mais uma nova impressão de mim mesma. Me faz acrescentar mais coisas na definição de mim mesma. Me faz, de certa forma, sentir um certo orgulho.
É aquele sentimento legal de finalização de tarefa.
Eu mesma sei muito bem que tenho traços de fadiga. Eu desisto das “tarefas” muito mais facilmente do que a maioria das outras pessoas (agora falando como uma psicóloga metódica).
Não devia. É realmente legal ter uma lista grande de objetivos cumpridos.
A questão é que a minha atenção é muito volátil. E o meu interesse é muito flexível.
Hoje mesmo estava reparando na minha facilidade em gostar extremamente de dois lados extremos de uma mesma coisa. Poucas pessoas conseguem fazer isso.
Eu vejo essa habilidade como uma vantagem...
Fico me vendo nesse meio de um polígono de muitos e muitos lados. É quase uma esfera (só não considero uma esfera porque aí seriam infinitos pontos... acho bom restringir um pouco para permitir a mim mesma uma flexibilidade em dizer não a algumas coisas).
Esses pontos que me rodeiam, na verdade quase que controlam tudo que eu faço.
Bem, isso é bem explicável...
Analise Comportamental: esses pontos são a minha historia de vida, contingências de reforçamento ou punição que moldam a minha forma de lidar com o mundo e com as pessoas.
Psicologia Existencial: esse polígono que me rodeia é o meu espaço vital, aquilo com que eu convivo e que percebo das minhas vivencias.
Psicologia Social: o polígono é formado pelos vários âmbitos que compõem em conjunto a minha consciência de self. Cada vértice representa uma peculiaridade do meu ser social, uma identidade, uma forma de me ligar a outras pessoas que compartilham dessa peculiaridade e, assim, estabelecendo o meu conceito de mim mesma a partir da fusão de todos os grupos diferenciados dos quais pertenço. A minha individualidade sendo formada pela combinação de identidades anteriormente não combináveis.
Psicanálise: ......... o polígono representa uma figuração imagética de um desejo libidinal estabelecido em primeiro com a minha mãe, ao mesmo tempo que uma identificação geométrica era estabelecida com o meu pai. Com isso foi gerada uma personalidade à imagem da geometria da personalidade do meu pai, e um conflito de desejo e ódio estabelecido pela minha mãe, por ela ter me dado alimento, mas não ter dado um falo. A representação lúdica do polígono remete ao jogo simbólico da criança, onde seus desejos inconscientes barrados pela resistência encontram uma brecha para se estabelecerem perante a consciência, afirmando o afeto que se liga ao desejo de morte da mãe que não me deu um falo. As arestas do polígono em si podem ser interpretadas como símbolos fálicos conectados em uma rede de sentimentos antagônicos, onde a ponta do falo se liga à base, numa relação de atração entre pólos opostos dos sentimentos ambivalentes.

Fico impressionada com a capacidade que desenvolvi de falar abobrinha. Acho que filosofia me ajudou bastante nesse campo.

Eu sinto um estranho prazer na linguagem. Sempre me atraí por ela. Como ela funciona, como embarca simbologias e transmite pensamentos que não foram colocados em palavras necessariamente. Como não é necessário mais que meia palavra para bom entendedor. Como ela é abstraída de forma misteriosa. Como tudo gira em torno dela. Como eu posso me fazer passar por alguém totalmente diferente de mim mesma usando da linguagem. Como é legal demonstrar o quanto de conhecimento você consegue acumular em dois anos por meio de um parágrafo totalmente sem propósito.
Gosto das palavras. Palavras são amigas, não comida!

Meu dia? Foi, como havia dito ontem, totalmente despreocupado. Me atrasei para pelo menos dois compromissos diferentes. Gastei mais dinheiro que o meu orçamento permitia. Compensei o mesmo infortúnio pegando uma carona oportuna. Andei como uma alienígena pelo centro de Belo Horizonte. Terminei de ler o livro. Adorei o livro em questão. Comecei a ler o próximo livro da lista. Percebi que, se andar nesse ritmo, terei ultrapassado em muito a minha media de livros nessas férias. Jantei. Pensei. Adiei possíveis preocupações. Pensei mais. Recortei papel. Fiquei maravilhada como achei em poucas paginas todos os argumentos mais fascinantes que me vieram à cabeça nos últimos dias. Desconfiei de que o dono do livro não tenha prestado atenção a isso quando leu. Planejei abordar novamente os assuntos na próxima oportunidade. Filosofei. Senti calor. Esvaziei a mente em um teclado.

Eu sou uma pessoa de baixa maturidade emocional.
Acho que tenho aprendido muita coisa importante ultimamente.
Hoje troquei olhares com uma pessoa com quem não converso há pelo menos 10 anos. Na verdade, quando o meu olhar ocasionalmente pousava nele, ele estava a me encarar. Quando passei por ele, apenas ignorei, fingi não conhecer enquanto cantarolava algo em francês. Sabe aquelas pessoas que você conhece de muito tempo atrás, que se for puxar assunto não vai ter nada o que dizer, apenas comentar alguma coisa sobre os dias sem graça em que você o encontrava por obras de vontades mais poderosas que a sua, ou perguntar como vai a sua mãe... pseudo-conhecidos são algo que não vale a pena. Essa é uma das raras situações em que eu encarno um espírito completamente despreocupado com as regras de educação sociais.
Já ouviram falar da teoria que diz que quando alguém está te encarando, uma linha de energia magnética se forma, atraindo involuntariamente o seu olhar?
Acho que deve ser tudo viagem.

Como posso saber? Não posso afirmar nada que não seja o que eu posso ver ou ouvir. Não posso saber se alguma coisa existe por trás daquela porta. Qualquer coisa que me contem que houve por trás daquela porta é boato.
(parafraseando Douglas Adams... um verdadeiro filósofo disfarçado de autor comediante).


►O que será que vem por aí?