O fundo da minha sobremesa está cristalizando já. Sabe quando você fica meio cheio de açúcar e deixa de lado?
O copo de água por sua vez está na sétima rodada, ou coisa do tipo.
A estória que comecei a escrever antes de ontem está empacada na quarta página. Sabe aquele ponto em que você já escreveu o que precisava escrever, não precisa de mais nada. Mas o sentido geral não está pronto. Aí não se tem mais o que falar sobre a estória, mas não se pode chamá-la de acabada.
Meu dinheiro ainda está seguro em seu lugar. Acho que estou quebrando records.
Minha cozinha está parada depois do funcionamento inusitado de hoje.
Minha cabeça está vagando por aí, sem destino.
E eu queria estar em algum outro lugar, fazendo alguma outra coisa?
Com certeza não.
The Cure é uma trilha sonora perfeita para um dia chuvoso sozinha em casa.
É triste, mas é feliz. É escuro, mas brilha.
Bem, algumas coisinhas andam me “incucando”. Não sei se há alguma coisa que euzinha possa fazer. Nem sei se há alguma coisa que possa ser feito por alguma alma viva na terra.
Meu único temor é pela perda de coisas que me são importantes.
Mas, depois de muito bater com o nariz na parede, aprendi que dá pra sobreviver muito melhor com algumas coisas perdidas do que com o nariz quebrado e infeccionado.
Disse que faria uma coisa hoje... Não sei se vou. Pelo ritmo do dia, parece que não.
Procurei algumas coisas pequenas e interessantes para ler nessas horas a toa. Achei algumas coisinhas, que não comecei a ler ainda. Estava ocupada com alguma coisa que não consigo me lembrar o que era. Isso sim é estar ocupada com o ócio.
Às vezes me pergunto, mas tenho certeza que viveria muito mais feliz se morasse sozinha.
Sim, eu tenho consciência de que se morasse sozinha, sentiria falta de coisas que tenho agora.
Mas como o meu discurso é sempre guiado pelo meu ponto de vista vigente, continuo dizendo que morar sozinha seria um máximo.
“Eu quis cantar minha canção iluminada de sol, soltei os panos sobre os mastros no ar, soltei os tigres e os leões nos quintais, mas as pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer.”
Fatídico...
“Mandei fazer de puro aço luminoso punhal para matar o meu amor, e matei... às cinco horas na avenida central, mas as pessoas da sala de jantar são ocupadas em nascer e morrer.”
Inevitável.
E aqui está algo que não se aplica a mim.
Auto-conhecimento é uma arte.
A memória agora é bem fraca.
Lembro-me de muita coisa. Mas tudo está meio nublado.
“Yesterday I got so old...”
Pelo menos não vai acabar tão cedo.
Pelo menos mais que a metade já se foi.
Cansei de esperar pelo que espero que venha.
Visa, porque a vida é agora!
►Without you... without you... (The Cure... to myself)