Às vezes eu sinto muito, mas sou convencional, tenho planos clichês, sou apegada às coisas, me envolvo com as pessoas e eventos da minha vida de forma retorcida, tenho expectativas, sou dramática, me desespero, como demais, sou vagabunda quando o assunto não me interessa, cobro demais de mim mesma, sou exibida naquilo que penso ser minha qualidade apenas para ganhar elogios, me acho inteligente demais, deixo planos de lado, não tenho coragem para fazer o que realmente quero.
Em um momento de hipotética frustração, vejo todas essas coisas aflorando ao mesmo tempo. Algo mais que tenho é o péssimo hábito de investir esperanças demais em minhas fantasias. É tanta fuga da realidade que ela me desestabiliza.
Tem dias em que tenho pressa. Quero tudo para antes de ontem. Vivo demais na expectativa do futuro.
É difícil quando percebo que não vivo o que eu acredito. Que sou torta, que defendo na fala algo que não demonstro na ação. E se fosse fácil, acho que nem esse blog existiria. Eu provavelmente não seria quem eu sou.
Fico me perguntando então, quem seria eu? Se eu tivesse passado na prova do CEFET quando tinha 14 anos... se não tivesse me paralisado pelo medo quando me apaixonei pela primeira vez, se tivesse dito sim naquele dia... se não tivesse trocado de vida em primeiro lugar.
Quando eu era bem pequena (eu não me lembro disso, tinha apenas três anos de idade, mas minha mãe me conta essa estória desde quando posso me lembrar), num belo dia de sei lá qual estação, eu estava brincando pelo terreiro quando minha mãe me perguntou “Paula, por que você demorou tanto para vir?” (desde que meu irmão tinha nascido, meus pais tentaram engravidar por cinco anos até eu finalmente aparecer). E eu respondi com aquela típica expressão de tédio das crianças, como que dizendo “que pergunta idiota...”: “é porque antes de vir eu fui para outra mãe, mas não deu certo. Só que agora não vou mais trocar de mãe.”
Essa estória é uma das coisas que sempre colocaram minhoquinhas na minha cabeça.
Estou falando livremente... sem saber onde vou chegar. É mais ou menos assim que levo as coisas. Acho que estou sempre improvisando, mas esse não é o problema. Não faço isso sem sempre me preocupar com as terríveis conseqüências de não ter um plano. De não já estar no meu caminho. Acho que eu deveria levar a vida mais como levo um desenho. Ou como levo um texto. No futuro é quando posso realmente observar a beleza daquele momento.
Mas por que não posso ir além? Por que não posso apreciar a beleza enquanto estou vivendo nela, dela... ela?
Algo que escrevi em um momento que passou:
"Muito bom estar aqui com você. Ali vai a nuvem que nos trouxe a existir. Ali vai o sol. Ali se vai noite afora adentrando meu cansaço. A luz se faz em relâmpago agora. Agora tudo é som. Esqueci de flutuar por alguns anos, mas agora, tudo é bom. A vida me enganou quando me encarnou. Não sou de carne e osso, sou de gente, sou de cor. Somos mais um espaço em calor. O que nos torna dois, já não sei. Sei que não somos ao outro o que o outro espera. Não somos a nós mesmos espera do outro. Somos dois. E a luz que vem põe um fim ao intervalo que criamos. Acabou o recreio. Chegou o dia que vem. E parece que o mundo voltou ao normal. Te vejo no próximo hiato. Até lá, guardo palavras."
►E agora? De volta ao zero?